O fadista Camané espreita os três cantos de outras músicas portuguesas (das oferendas de Sérgio Godinho e de Fausto à crónica direcção musical de José Mário Branco) do seu quarto, num canto que evoca as memórias dos fados de Alfredo Marceneiro. Coadjuvado por um trio de instrumentistas de monta (José Manuel Neto na guitarra portuguesa, Carlos Manuel Proença na viola e Carlos Bica no contrabaixo), Camané cimenta-se cada vez mais como o maior fadista masculino pós-Carlos do Carmo. Curiosidade, aventura, refinamento, excelência.
As rugas de um trajecto estilhaçado por hiatos, doenças e reformulações são milagrosamente eliminadas por uma música abençoada por uma eterna juventude, como se os Pop dell’Arte nunca tivessem parado. As contigências da vidinha passam a corriquice num par de batidas, e João Peste passa a ser em poucos segundos de gravação no maior astro rock, num líder de um projecto que é ainda tão provocador. O híbrido anglo-francês com alma portuguesa de rock vangardista, electrónica e cabaret (ou lá o que isso seja) sai outra vez da toca com aquele sorriso maroto. E os Pop dell’Arte voltam a antecipar o futuro, assim de forma tão abrupta.
2º Camané – Do Amor e dos Dias
1º Pop dell’Arte – Contra Mundum
GP
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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Melhores álbuns nacionais: 9º e 10º, parte 2
Não é por acaso que os melhores tempos dos Da Weasel tinham Armando Teixeira agarrado aos teclados. Logo que deixou o grupo, toda a dose de hip-hop desacelerado, sensual, carnal e swingante, foi substituída por uma cedência a um rock pesado mais quadrado e pouco arejado. Depois, Armando dedicou-se a produzir álbuns alheios e a inventar dois dos mais interessantes projectos da música portuguesa: o hip-hop instrumental de Bulllet, e a magnífica pop roubada aos vinis da Feira da Ladra de Balla. Eliminada essa matéria-prima vinda do lixo dos outros, ficou a mesma admirável elegância aplicada às canções. Equilíbrio confirma-o ainda mais como um dos nossos melhores obreiros na busca pela perfeição dos 3 minutos.
Contrariamente a tudo o que seria expectável, o carácter errático dos Pop dell'Arte (na foto) nunca diminuiu a sua capacidade de deixar marcas profundas na música portuguesa com cada um dos seus espaçados lançamentos. A voz de João Peste está agora mais grave, mais cansada, mas também por isso mais trágica, mais tocante na pele de equivalente masculino das sereias, um homem que canta tristemente (e belissimamente) aos navios e aos marinheiros que passam.
10º - Equilíbrio - Balla
9º - Contra Mundum - Pop dell'Arte
GF
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