sexta-feira, 11 de março de 2011

Na Montra

Recensão semanal a vários discos recentes

R.E.M. – Collapse Into Now

Um punhado de boas canções abrilhantadas por uma voz poderosa, por um guitarrista (e bandolinista) com passe para as mais variadas zona musicais e por um baixista/teclista de coros afinados e sensibilidade pop, e uma maleabilidade fácil de toda a nau entre a neura eléctrica e a meditação baladeira, deveriam ser factores suficientes para o convencimento geral... caso não estivéssemos a falar dos R.E.M.

Tal como ao FC Barcelona não basta uma vitória tangencial no relvado, é imperativa uma goleada; ao R.E.M não basta um bom disco, pede-se-lhes que arrasem. No meio de um discogafia tão esplendorosa e numerosa como é a da banda de Michael Stipe, "Collapse Into Now" arrisca o destino ingrato de sombra. À escala de R.E.M., este 15º álbum tem um sabor rotineiro. Mesmo que seja bom.




Lykke Li – Wounded Rhymes

Desde "Youth Novels", passaram três anos, mudou-se o cenário, mas Lykke Li não mudou assim tanto. Foi a Los Angeles, diz a própria, à procura de um encontro furtuito com David Lynch, ou para sentir os deslumbramentos e fantasmas dalguma Mullholland Drive. Não encontrou Lynch. Mas reencontrou-se a si mesma, de volta ao sítio onde estava, entre os sonhos rosados de Björk e os pesados de Fever Ray dos Knife, continuando a ser aquela viking guerreira do tambor, de voz ameninada e som glaciar. O forte conjunto de 10 canções alonga o estado de graça iniciado com o disco estreante "Youth Novels".
Artigo baseado em texto assinado para o Cotonete.


Arbouretum - The Gathering

No território sombrio e infernal dos Arbouretum, a voz colossal do guitarrista David Heumann parece cair directamente do paraíso, imprimindo uma musicalidade ternurenta a um arrastamento que é cavernoso e que tem parentesco com os Black Sabbath e o doom. Nesta espécie de grunge em câmara lenta, 'Destroying to Save' merecia devolver a rádio às apostas de risco no rock. Apenas ficam a perder na versão do tema clássico do country 'Highwayman'. Merecem ser seguidos.



PJ Harvey – Let England Shake

A mutante PJ Harvey é desta vista num inesperado triângulo entre Cocteau Twins, Shirley & Dolly Collins e o general Loureiro dos Santos, mas a milhas de distância de cada um deles. Etérea mas de dimensão demasiado grande para caber num expositor da 4AD; com rock encorpado a mais para se ficar na folk de um cenário bucólico de Jane Austen; e mergulhando na história militar britânica mas com a cabeça de uma recriadora.

Polly Jean volta ao seu conselho de colaboradores intermitentes (os velhos conhecidos Mick Harvey e John Parish, e o menos habitual baterista Jean-Marc Butty) para mais uma vez mudar, espalhando surpresas como o contraponto com uma voz masculina com quem trava os diálogos das 12 novas canções, ou samples de sons étnicos e militares.

Aquela margem indefinida entre rock e folk, com cheiro a scones e a maresia da costa sul britânica, foi palmilhando caminho há alguns anos. E talvez a metade final de "Uh Huh Her" tivesse sido o grande prenúncio para "Let England Shake", a obra maior de sempre de PJ Harvey.



GP

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