Leonard Cohen – Old Ideas
Há mais de 20 anos que Leonard Cohen não fazia um álbum tão bom. Embora esta possa parecer uma afirmação retumbante, não estamos a falar de nenhum grande feito se pensarmos na escassez da colheita - apenas três álbuns de originais nas duas décadas anteriores - e na inconsequência da mesma. Se The Future (de 1992) e Ten New Songs (de 2001) são álbuns medianos com algumas grandes canções, Dear Heather (de 2004) é uma mera declaração presencial com 12 músicas a mais.
Dentro da mesma leva, nesta nova vida de Cohen, surge-nos Old Ideias, que de feio só tem a capa. O álbum tem o mesmo tipo de virtudes de I'm Your Man (de 1988), o longo que melhor redefiniu a imagem de Cohen enquanto um gentleman galã, uma espécie de Sinatra da trova, que não renega os luxos de bons hotéis ou de uma banda numerosa bem apetrechada.
O módulo de Old Ideas, com toques de kitsch, é reconhecível mas aberto e exploratório. Um violino chorão embrenha-se com um órgão de qualidade caseira; a bateria parece tocada por um jazzman preguiçoso, lado-a-lado com um piano smooth bem desviado para a Cohenlândia e um saxofone pontual que avista Kenny G só que do outro lado da barricada onde se encontra o bom gosto. O toque de conforto vem da voz sussurrante de Leonard Cohen, o homem de spoken-word que tenta cantar. A alavanca para o supremo vem do incontornável amparo feminino dos coros, quais sereias ao serviço do charmoso trovador numa terra de sonhos que não existe.
Old Ideas faz da terceira idade de Cohen a terceira juventude. Em 2012, as canções novas de Leonard Cohen voltam a ser algo de vital para as pessoas.
Lana del Rey – Born to Die
Raramente, uma artista pop esteve tão exposta a hiperbolismos tão opostos e em tão curto espaço de tempo como Lana del Rey. A forte dupla de canções Blue Jeans/Video Games de antecipação ao álbum Born to Die, aliada a um visual de actriz de Hollywood à antiga fortemente atraente, escancarou-lhe as portas do estrelato pop e a pressa da entrega de um trono qualquer. Na curva seguinte desta montanha russa, uma actuação tosca num célebre programa de TV precipitou a troça e o desdém dos muitos que desconfiavam desta ascensão tão rápida, a que se colaram outras especulações em série e até suspeitas (infundadas) de um plágio a uma artista grega.
Algures entre o oito e o oitenta, a moderar o «manifestamente exagerado», está este álbum Born to Die. Não se encontra neste disco nem a visionária pop, nem, muito menos, um prognosticado conjunto de canções desastroso que destroçasse à partida a nova estrela.
Born to Die vai do hyped pop ao hip pop, variante do hip hop ao modo de del Rey, numa espécie de gangsta-pop que se sabe perfumar por um trip-hop (ou trip-pop) mais cinematográfico. A dúzia de canções do disco, mais as faixas-bónus, são tudo menos previsíveis.
Lana del Rey está a meio de dois pontos distantes e improváveis, entre uma Anna Calvi e uma Britney Spears, como uma cantora de sensibilidade indie que não renega as armas de uma estrela pop. Uma donzela desconcertante que carrega tudo à flor da pele: o olhar perdido e nervoso e no mesmo segundo o dom da sedução, sobretudo quando a música começa.
Para o caso de passarem o testemunho do trono da pop de uma Lady Gaga para Lana del Rey, é a própria pop que é promovida.
Mark Lanegan – Blues Funeral
Entre os múltiplos projectos, o ex-Screaming Trees lá arranjou tempo finalmente para um disco a solo – oito anos depois. A placa giratória de Blues Funeral vai roda entre o rock industrial sombrio, lamentos blues e até, pasme-se, momentos de disco-sound. Há a acrescentar a isto tudo a bênção da sombra de Lanegan (basta a sombra) e o consequente toque de monumentalidade a tudo e mais alguma coisa... O vozeirão ajuda. A alma esmaga.
A Place To Bury Strangers – Onwards to the Wall (EP)
O segredo de um bom disco nem sempre está apenas na sua originalidade, pode residir também no entusiasmo com que é feito. O trio nova-iorquino A Place To Bury Strangers confia tudo no segundo item e não se sai mal. O espírito fervilhante desta mão cheia de canções torna irrelevante o lembrete de que os Ride já tinham feito isto há 20 anos (já para não ir mais longe). Para os amantes de noise, shoegazer e pós-punk, aqui está um sabor ao agrado.
Lila Downs - Pecados y Milagros
"Pecados y Milagros", com a militância política e as referências à religião católica sempre à superfície, é outro caldo cultural, que estica o manifesto de Lila Downs entre a cultura indígena (especialmente da sua região de Oaxaca) e a ocidental (laivos de pop-rock e até de electrónica), entre a disposição intimista das rancheras mexicanas e a festa folclórica das cumbias. Nada que surpreenda, portanto. Downs habituou-nos, e bem, a isto.
Mas há uma diferença, substancial, face ao que recebíamos de Lila Downs. A sua música vinha sendo uma estalada que nos acordava do desmaio da mediania com que nos confrontamos amiúde. Mas "Pecados y Milagros" é Lila Downs em regime light e facilitista, para consumo externo acessível, que amolece não só a força autêntica que lhe conhecíamos como a dos temas nos quais pegou: 'Vámonos' e 'Fallaste Corazón', derivados das mãos de Jimenez e de Sánchez para Downs, passam a banais.
Pedaços de prosa extraídos de artigo assinado para o Cotonete.
GP
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