sexta-feira, 8 de abril de 2011

Na Montra

Recensão semanal a discos recentes


TV on the Radio - Nine Types of Light

O rock industrial dos TV on the Radio está neste quarto álbum menos ostensivo e mais desacelerado. Esta finta às expectactivas do que muitos dos seus fãs gostariam de ouvir está longe de ser uma má notícia. A pertinência do grupo mantém-se de pedra e cal, tal como a sua identidade, reconhecível em todas as condições desvantajosas hipotéticas: por poucos segundos que se oiça, por mais baixo que esteja o volume de som, "Nine Types of Light" tem o cheiro exclusivo dos TV on the Radio. Ainda não é desta que vem a obra-prima do grupo que lhes vai mudar a vida para sempre; mas o filme de suspense que tem sido o seu percurso prossegue com interesse.




Link – Longplay

O produtor Rui Vieira, através do seu pseudónimo Link, não consegue sair da retaguarda mesmo quando é ele finalmente a tomar o comando autoral de um projecto discográfico, neste álbum de estreia.

E o que fez ele neste disco? Um belo híbrido afroamericano de funk, soul e hip hop, com o apadrinhamento de New Max (dos Expensive Soul) nas qualidades de co-produtor, e um casting interessante de vocalistas e MCs, dos quais se destaca o velho conhecido de Link, NBC, que dá voz ao primeiro single, 'Dá-Me Uma Chance'.

O recheio assíduo do som de metais, o bom groove e, porque não dizer?, uma certa coolness dão crédito àquela que é uma das melhores estreias discográficas em solo nacional dos últimos meses. Portugal está a ficar mais funky.




The Dears – Degeneration Street

A maior banda brit do momento habita no Canadá, em Montreal, e chama-se The Dears. Mas a proclamação tem apenas a efemeridade das primeiras canções de "Degeneration Street", quando já aparecem nas notas de rodapé dos nossos cérebros expressões como «que disco de outro mundo!», «os Kaiser Chiefs ao pé disto parecem bobos da corte junto dos verdadeiros reis, os Dears», «olá Blur e Pulp, eles também estão aqui». Enquanto põe toda a carne toda no assador, são até a maior banda indie do planeta.

Mas depois do deslumbramento e do sonho, de que é responsável a cadeia em série inicial das melhores canções pop do ano (da nº 1, 'Omega Dog', à nº 4, 'Thrones', que chegaram a ter por alguns minutos), a realidade lá apareceu, pelo menos a dos Dears: não necessariamente desmotivante, apenas um bocadinho menos fogosa, mais banal, mortal e descendente em tudo o depois vão fazendo. Excepção, claro, a outro pico alto, de milhares de metros sobre o nível do mar: a nº 9, 'Stick With Me Kid', ou o ouro escancarado para qualquer radialista de bom gosto.




Bill Callahan – Apocalypse

Música de planos fixos; perspectivas de natureza morta; o ar tenso, fechado, austero e também charmoso do ex-Smog como se o rosto de Callahan se conseguisse colar às suas canções; um burburinho velvetiano com chapéu de cowboy e um conformismo poético do country de Townes Van Zandt. Toda esta caravana de méritos volta a instalar-se noutro álbum, mesmo que a cartilha pareça já estar a esvaziar-se perante a grandeza de outras passagens - "Woke on a Whaleheart" (de 2007) é o caso.


GP

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