quinta-feira, 31 de março de 2011

Deve ser isto o underground

Os garageiros Fleshtones viveram sempre à margem do sucesso comercial, desde que apareceram em 1976, em Queens, Nova Iorque. O foco no nervo principal do rock, que inflamou os seus leais fãs, levou-os a momentos de maior exposição como a presença no documentário "Urgh! A Music War", sobre o new wave, a que alude o vídeo abaixo. Por incrível que pareça, eles ainda andam aí.



GP

Não Estava Lá, Não Estava Lá


Reading Festival 1992

Aproveitando os efeitos retroactivos do passe inter-temporal desta secção, gostaria de ir até ao Festival de Reading de 1992.

Nessa altura Portugal vivia o deslumbramento da era dos megaconcertos (como o dos Guns N’ Roses, ocorrido então), e do crescimento paralelo de concertos de menor porte nas cidades de Lisboa e Porto (1992 traria também a Portugal nomes em ascensão como Nick Cave ou os James). Mas o país estava longe do circuito dos festivais de Verão que floresciam pela Europa do centro e norte. Tinha eu já vontade de aderir a estas coisas um poucos mais mirabolantes, mas não a autonomia e a carteira para voos ao epicentro da música que era, naquele prolongado fim-de-semana, o Festival de Reading. Restava-me o consolo sedentáro de acompanhar estas incidências via MTV, quando esta estação ainda passava música.

O que perdi foi ver a PJ Harvey fase "Dry", dos tempos do casaco de cabedal e das botas Dr Martens, no seu power trio - de que se desprenderia ano e meio mais tarde de forma conflituosa; os Charlatans na ressaca fresca do movimento Madchester; os Smashing Pumpkins guedelhudos da fase "Gish", debaixo de uma nuvem pesada dos Black Sabbath; os Manic Street Preachers da fase "Generation Terrorists", quando Richey Edwards ainda fazia parte daqueles dias de guerrilha; os Ride a glorificar num grande palco o shoegazing; os Farm em alta a relembrar que havia mais Liverpool para lá dos Beatles; os Public Enemy a trazer o poder da rua dos subúrbios nova-iorquinos; ou os Nirvana na actuação europeia mais mediatizada de sempre, quando 'Smells Like Teen Spirit' era já um hino estabelecido.











GP

quarta-feira, 30 de março de 2011

Preparativos para um casamento, segundo Adrian Tomine


Saiu há coisa de um mês na magnífica editora canadiana Drawn & Quarterly. E é o livro mais recente desse notável autor chamado Adrian Tomine. Ou seja, mais um da trupe dos autores norte-americanos de banda desenhada que fizeram da sua a vida a sua arte, enfiando para dentro das suas histórias aquilo que a vida lhes enfia para dentro do dia-a-dia.

No caso de Scenes from an Impending Marriage, nada mais se passa no pequeno objecto de 54 páginas que não seja o relato dos preparativos para o casamento de Adrian com a sua mulher, Sarah. Sem a melancolia de álbuns soberbos como Summer Blonde ou Shortcomings, este é um pequeno divertimento, uma brincadeira terna, honesta e despretensiosa que o autor resolveu promover a livro. E ainda bem que o fez. Lê-se rapidamente de pé, enquanto se espera companhia para jantar. E fica-se com o coração mais quentinho. E apetece guardar na mesa de cabeceira e voltar a ele todas as noites. Nem que seja só um bocadinho. Puro prazer.

GF

Eu estava lá, eu estava lá


Foi ontem. E foi tão assombroso quanto se adivinhava. Nas mãos de Ricardo Rocha, a guitarra portuguesa cresce para além das suas limitações físicas e técnicas, torna-se um instrumento quase capaz de ombrear com o piano enquanto veículo da criação contemporânea mais arrojada. Aquilo que se ouviu foi uma vergastada contínua, Ricardo Rocha a torturar brilhantemente a guitarra que tanto o tortura, a exigir-lhe de volta aquilo que ele lhe dá, a frustrar-se admiravelmente com o instrumento que lhe coube em sorte.

Ricardo Rocha diz que foi o último. E terminou a noite, manco, contorcido, dorido da intensidade arrepiante com que silenciou a sala do Maria Matos durante hora e meia ou lá quanto foi - mas quem é que olhou para o relógio? Despediu-se agradecendo a 'paciência' de quem estava ali e admitindo que o concerto lhe tinha corrido muito mal (o que, já aprendemos, costuma ser inversamente proporcional ao entendimento popular). No entanto, nas sucessivas espirais de obsessão que são as suas músicas, estreou uma nova peça. Ele que dizia que nunca mais iria compor uma só nota. Pode ser que também não cumpra a sua promessa de não mais tocar em público. Mais do que uma pena, seria algo próximo da catástrofe.

Ainda tenho os músculos feitos pedra, receosos que estavam de que o mais pequeno movimento desmoronasse aquela música de génio visceral e torcido. Em palco lembrava Glenn Gould, ouvia-se-lhe a voz a entoar notas num transe lá seu, a que não temos completamente acesso - mas o suficiente para a realidade também ficar momentaneamente presa numa teia de aranha, impedida de entrar na sala.

Antecipadamente, um dos concertos do ano. Mais do que isso até, um dos concertos da vida. Um prodígio de talento ao serviço de música tão alta quanto pode subir. Obrigado, Ricardo. Volta sempre.

GF

Clã com asas


Pequena espreitadela para dentro do Disco Voador, dos Clã. Canções para a pequenada por uma das melhores máquinas pop portuguesas. Para as melodias deslizarem melhor, Manuela Azevedo até arranjou um penteado aerodinâmico.



GF

terça-feira, 29 de março de 2011

Prazer Culposo


ABBA, os casalinhos sorridentes

Esta rubrica é o kamikaze para a credibilidade de qualquer jornalista de música. Ao entrar neste confessionário de badalhoquices, sinto-me um homem-bomba que, ao contrário dos do Médio Oriente, já conhece o paraíso antes da explosão suicida.

Arrisco perder/envergonhar/indignar leitores, amigos... Com todo o prazer. Um prazer sem complexo de culpa.

Desde logo sou contra o nome que perfilha este espaço. Admito ter prazeres disfuncionais, exóticos, ou o que lhe quiserem chamar. Mas se pensam que esses prazeres me causam um sentimento de culpa, estão totalmente enganados.

Por alguma razão, o mundo ou parte dele sentiu uma alergia a algo que merece de mim sentimentos opostos (pindéricos, dirão alguns). Decifremos então essa razão, se é que ela existe (não existe).



Começo pelo absurdo de defender não uma música mas, praticamente, toda a carreira dos ABBA. Melhor (ou pior, é como preferirem), advogo a ideia de uma evolução musical (reparem no atrevimento da palavra musical), que termina apenas com o fim do grupo (em 1982). Isto que escrevo já foi por mim defendido em locais públicos, para indignação dos meus pares de tertúlia. Como se o caso (grave) não fosse suficientemente surrealista, o conteúdo já foi oralmente expresso envergando uma t-shirt dos Spacemen 3. Estão a ver um tipo de cabelo desgrenhado, com uma t-shirt amarela fluorescente (e feia!), de tamanho L (mas na medida inglesa) e desproporcionado que mais parecia um vestido, a defender zelosamente o trabalho coerente (vou prosseguir com a adjectivação elogiosa, portanto) e calculado dos ABBA? Não estão, pois não!? Mais tarde e após muitos conselhos do bem mais lúcido espelho, tive que ceder às evidências visuais e desistir daquela peça de vestuário (que apenas por militância cega e sensação de raridade acedi comprar e usar), mas não desisti de defender os ABBA. Sou muito selectivo no ridículo.



Lembro-me de ter 17 anos e de estar na casa do meu avô, na Avenida Guerra Junqueiro (Lisboa), onde cheguei a viver. Era feriado. O 1º de Maio. A poucos metros, da Alameda D. Afonso Henriques, ouvia-se os sons do final de festa da CGTP - Intersindical. E que sons, e que final de festa! O que dali vinha era a passagem por inteiro da compilação ABBA Gold. Abri a janela do escritório, claro. E deixei-me por ali ficar. Estavam então os meus gostos a estereotipar-se no rock alternativo americano. E por isso, o gozo daquele momento estava a dar-me a consciência de uma espécie de prazer criminoso. Estava a descobrir que, afinal, adorava quase todas aquelas canções de um grupo que sempre me foi familiar.



Com o tempo, fui refinando, procurando encontrar na teoria aquilo que era indefensável, e só possível de ser contrariado pelo irracional (o doce irracional). Atente-se no jogo brutal entre as duas vozes femininas (a morena Anni-Frid e a loira Agnetha, a minha eleita), catalisador das emoções da alma pop do grupo. Na não-repetição da receita das canções - todas diferentes, quase todas êxitos. Na engenharia de estúdio bem medida dos maridos Björn e Benny. Num poderio ao vivo do quarteto que contraria a ideia de artificialismo do grupo - bem apanhado pelo documentário de Lasse Hallström, ABBA: The Movie. No picado visual às várias modas musicais (do glam ao disco sound). É-se até capaz de se ir ao ponto de se defender o álbum dos ABBA de 1977, Arrival, como se de um Remain in Light ou um Berlin se tratasse... Estou a reler neste momento o presente parágrafo, em especial a última frase, e a conclusão é esta: pirei de vez, só posso! Mas dou de caras outra vez com o arrebatamento disco sound de Gimme! Gimme! Gimme! e Lay All Your Love on Me, a flauta chilena de Fernando, o pianinho mágico de Chiquitita, o divinal complemento mútuo ente as vozes da loira e da morena ouvindo Knowing Me, Knowing You e One of Us, ou, no geral, aquela pinderiquice tão tentadora, e descubro que o que faz sentido são as canções orelhudas dos ABBA, não a ortodoxia estética.







GP

segunda-feira, 28 de março de 2011

De mestre para mestre

A excelência do vídeo abaixo recomenda poucas palavras: Tom Waits, apresentado por Neil Young, dá entrada no Rock & Roll Hall of Fame. O setlist da sua performance no Waldorf-Astoria, em Nova Iorque, inclui as músicas 'Make It Rain' e 'Rain Dogs'. Ora vejam (tudo!)...



GP

domingo, 27 de março de 2011

Clássico na loja: Strangers Almanac, Whiskeytown (1997)


O homem que não passava um dia sem gravar um álbum e cheirava em doses iguais a hiperactividade e fuga desesperada de estado depressivo, sim ele claro Ryan Adams, há-de vir a Portugal lá mais para Junho. Mas antes de sequer sonhar em poder vir a ser confundido com o outro, o malfadado canadiano que deve ter as chaves (aquelas banhadas em ouro ou lá o que é) de Cascais, antes de Elton John dizer maravilhas dele, antes de saltar do palco em concertos lotados e dar uma nota de dez dólares a um tipo que lhe pediu para cantar Summer of 69 e expulsá-lo da sala em seguida, antes de tudo isso houve os maravilhosos Whiskeytown.

Já aí se começara a dizer que algo de muito certo andava a acontecer à country: as guitarras eléctricas, o baixo registo na escala de Hillbilly, a capacidade de abotoar as camisas na música tantas vezes saloia de Nashville e esconder a pelaria do peito mais o crucifixo feito com osso de bovino.



Editado em 1997, Strangers Almanac não deu nas vistas tanto quanto devia. E só viria a ser decentemente descoberto quando a carreira a solo de Adams arrancou em 2000, com Heartbreaker. Mas aí, Adams começava a abarcar toda a América na sua música, juntando Dylan, Patton ou R.E.M., pedindo os blues-rock de volta aos Rolling Stones que os levaram para o outro lado do Atlântico. Em Strangers Almanac, tudo isto é ainda uma miragem. Aqui, faz-se a Gram Parsons aquilo que ele realmente merecia: ter descendência. E isso não é coisa pouca.



GF

Olhó vídeo mais bonito...


Era uma vez duas miúdas japonesas, a Yuka e a Miho, que viviam em Nova Iorque. Cruzaram-se na vida real e na vida artística. Na segunda, chamavam-se Cibo Matto e nas mãos de um ainda desconhecido Michel Gondry foram estrelas de um dos mais belos videoclips da história.

Era uma vez uma história. De um lado do ecrã corria num sentido. Do outro, corria no sentido inverso. E isso, não sendo Impulse, é qualquer coisa de sublime. Isto:


Cibo Matto- Sugar Water [PV] por skanel

GF

sábado, 26 de março de 2011

Na Montra

Recensão semanal a discos recentes

The Strokes - Angles

O quarto álbum da banda do vocalista Julian Casablancas, que quebra um longo jejum de cinco anos, deveria ser mais especial do que é. A nova dezena de canções expõe uma banda numa encruzilhada de vontades diferentes, meramente a picar o ponto, sem aquele ânimo e aquela autenticidade que os coroou nos dois primeiros álbuns ("Is This It" e "Room on Fire"). E esta falta de júbilo acontece logo no disco de maior pluviosidade de ideias refrescantes após "Is This It", vinda tanto do synth-pop que transitou da investida a solo de Julian Casablancas, como de outras estruturas indie-rockeiras subitamente desmontadas.

Basicamente, "Angles" é um amontoado de quases – quase-grandes-canções – e de sons surpreendentes mas descontinuados, e também de cedências e de fretes: o primeiro single 'Under Cover of Darkness', que abusa do mais-do-mesmo, é uma escolha de um conservadorismo chocante atendendo à vizinhança bem mais inovadora.

Sem grande esforço, a banda lá se vai desenrascando. A pinta do grupo, as famosas tabelinhas entre as guitarras eléctricas de Nick Valensi e Albert Hammond Jr e aquele jeito intacto para a simplicidade vão safando o disco, mas a um nível tangencial.

"Angles" soa demasiado a álbum de serviços mínimos. E a despedida.


Kurt Vile - Smoke Ring For My Halo

Estamos perante um dos melhores álbuns deste primeiros meses do ano: chama-se "Smoke Ring For My Halo" e é o quarto longo de Kurt Vile.

O jovem músico de Filadélfia vem da melhor escola inde rock, Sonic Youth - Dinosaur Jr, como bem se nota naquela forma docemente preguiçosa de cantar (vide Thurston Moore ou J Mascis) ou nos trilhos sónicos da guitarra elécrica.

Mas, para além do rebuliço eléctrico dos seus mestres, Kurt Vile sabe assentar na serenidade contemplativa típica do sadcore dos Red House Painters, com uma poupança de meios mais típica da editora K Records (encabeçada pelo mítico Calvin Johnson) do que da Matador, de que é já um dos grandes nomes.

Canções magistrais como 'Puppet To The Man', 'Society Is My Friend' ou o tema-título 'Smoke Ring For My Halo' reclamam culto urgente para este cantautor da garagem rock.


Gregg Allman – Low Country Blues

Gregg Allman acaba de dar umas reviravoltas ao normal guião da vida. O recente transplante de fígado, a hepatite C que o aflige, os 63 anos que tem e uma carreira a solo deficitária em constância não impediram este histórico dos Allman Brothers Band de fazer aquele que está a ser visto como o seu melhor álbum em nome individual.

Com outro monstro do blues-rock sulista na produção, falamos de T-Bone Burnett, o organista Gregg Allman prova em "Low Country Blues" porque é defendido como uma das maiores vozes brancas da soul, mesmo que num álbum que é acima de tudo de blues.


Cut Copy - Zonoscope

Em 2008 e por causa do single 'Lights and Music', os australianos Cut Copy assinam um compromisso vitalício com o orelhudo. Deles esperamos sempre outro 'Lights and Music, um tema synth-pop quentinho para a alma que se encaixe no imaginário de memórias que temos dos anos 80.

Mas "Zonoscope", o terceiro álbum do projecto de Dan Whitford, não nos dá bem a banda de singles que imaginamos. O disco de 11 temas revela antes um colectivo com uma visão artística do todo, que prefere o aventureirismo naquele submundo de sintetizadores e de cargas e recargas de beats à oferenda de vários 'Lights and Music' ao virar da esquina.


GP

sexta-feira, 25 de março de 2011

O tempo perguntou ao tempo que horas são, Don DeLillo?


Há tempos que o tempo não me ocupava tanto tempo assim. Omega Point (Ponto Ómego quando a digestão se faz em português). O livro de Don DeLillo (não confundir com Don DeLuise, do Candid Camera) é uma das mais belas reflexões sobre o tempo - lato -, o tempo - nosso - e o que tempo - que julgávamos nosso, mas que se escapa e, na verdade, não é senão dele mesmo. O mote aparece sugestionado pela instalação de 24 Hour Psycho, aquela em que Douglas Gordon (o tipo que instalou 17 câmaras num campo de futebol para seguir cada movimento de Zidane) desacelera a obra-prima de Hitchcock até se esticar durante 24 horas.

Livro belíssimo, uma vez mais, porque esta decomposição dos movimentos, o fazer de cada miserável movimento a coisa mais importante do mundo e, simultânea e paradoxalmente, esvaziá-lo de sentido é simplesmente avassaladora. O falso-mistério do livro é de uma poesia sublime: ninguém quer verdadeiramente saber para onde foi 'ela'. O que interessa é que se foi; o interessa é o que se faz com isso; o que interessa é o que o deserto, em Point Omega, é o único elemento que não comporta miragens.

Tenho lido.

GF

quinta-feira, 24 de março de 2011

Já vos comia...


Perceba-se isto: nestes filhos bastardos dos Animal Collective, de nome que faz cócegas na ponta da língua - Munch Munch -, mora um dos melhores álbuns do ano. O disco é Double Visions e é, na verdade, de 2010, mas as canções são de sempre e chegam-nos agora. Uma maravilha de melodias bonitas em equilíbro precário sobre baterias ansiosas e vozes desassossegadas. Um mimo...



GF

quarta-feira, 23 de março de 2011

Ravi Shankar

Quinzena Temática – produtos da Índia em destaque

Um homem indiano, de quase cinquenta anos, oriundo de boa casta bengali, instrumentista do pouco maneirinho sitar e de formação clássica tem tudo menos o perfil de um herói de um grande festival hippie de rock dos anos sessenta. Mas foi nisso em que se tornou Ravi Shankar, a cobro de uma carreira de solista ascendente que, de oportunidade em oportunidade, de novos caminhos em novos caminhos, de apadrinhamento em apadrinhamento, o empurrou para um estatuto de celebridade bizarro para um músico de uma cultura que aparentemente se situava nos antípodas do mundo pop.

De bandas sonoras de filmes indianos (incluindo longas-metragens do também bengali Satyajit Ray) para trabalhos para o cinema ocidental, de colaborações com músicos eruditos de topo (como o violinista russo Yehudi Menuhin) às associações com as maiores bandas rock (como os Beatles e os Byrds), Ravi Shankar tornou-se, provavelmente, na primeira grande estrela da world music antes sequer desta designação existir. O seu talento ajudou a espalhar o aroma de caril pelo psicadelismo, popularizando aquele som fino de cordas do sitar em imaginários tão estrangeiros.

Não é novidade nenhuma dizer que Ravi Shankar é o músico indiano mais reconhecido e um dos maiores do mundo vivos.


GP

Palco secundário?



Mandaria a minha vontade festivaleira passar a temporada de quatro dias no Passeio Marítimo de Algés coladinho ao Palco Super Bock, o comummente hierarquizado palco nº2 do Optimus Alive!... Eis então mais um nome recentemente anunciado para desequilibrar a balança, o do bluesman Seasick Steve. A sua estreia ao vivo em nosso solo acontece no dia 7 de Julho, o segundo dia do Alive!. Encontro marcado, Steve.

GP

sábado, 19 de março de 2011

Magnífico Hermeto


Termina hoje, no Theatro Circo de Braga, a mini-digressão portuguesa de um dos nomes mais geniais da música brasileira e do jazz contemporâneos. Hermeto Pascoal é tudo: jazz, forró, frevo, o cacete e o mundo do avesso, numa música total. Para ele, tudo é música, tudo é harmonia, tudo é melodia. Algumas das melhores orquestras que ouviu eram sapos a coaxar, algumas das mais inspiradas melodias eram buzinas de carros, alguns dos mais belos ritmos eram operários da construção civil.

Hermeto, que esmurrou Miles Davis (num amigável combate de boxe na casa do trompetista) e foi também capaz de lhe arrancar gargalhadas, é autor de discos tão maravilhosos quanto Slaves Mass e Só Não Toca Quem Não Quer. Há uns anos, a sua passagem pelo FMM de Sines foi um dos melhores concertos de sempre do festival. Vénia ao magnífico senhor das longas barbas brancas.



GF

sexta-feira, 18 de março de 2011

MGMT


Quinzena Temática – produtos de Brooklyn em destaque

Os MGMT, formados pelo vocalista/guitarrista Andrew VanWyngarden e pelo teclista Ben Goldwasser, são, dentro do electro-psicadelismo, uma espécie de atletas de pentatlo moderno: muito bons nos mais diversos domínios. Decifram o atalho escondido para a glória pop, num patamar milionário Beatles/Rolling Stones/Beach Boys. E elaboram labirintos deslumbrantes quando é tempo de experimentar. Muitas vezes são um misto das duas coisas, e as suas músicas tornam-se um cocktail explosivo.

No álbum de estreia "Oracular Spectacular", foram exuberantes e expansivos, e de repente o mundo parecia uma coisa fácil de conquistar. No segundo álbum, "Congratulations", apareceram mais introspectivos e elaborados; podem ter desesperado a editora mas assinaram a sentença da eternidade.

São já grandes demais para se ficarem cingidos a um movimento localizado a uma área. E salvaguardadas as grandes diferenças, são actualmente o laboratório de teclados mais próximo do sucesso à larga escala dos Depeche Mode.



GP

quarta-feira, 16 de março de 2011

Não Estava Lá, Não Estava Lá

Newport Folk Festival 1965

Imaginando-me na posse da máquina do tempo, teria muito por onde escolher, mas uma das primeiras experiências com o brinquedo seria seguramente uma viagenzinha até ao Festival de Folk de Newport naqueles dias de Julho de 1965. Trocaria o iPhone, o Youtube e este conforto todo das modernas tecnologias para ver in loco o cruzamento entre a velha América e a nova (ou o misto das duas), sem me preocupar em consultar as mais recentes mensagens electrónicas.




Com todo o prazer, infiltrar-me-ia com o meu saco-cama naquele mundo de penteados e roupas clássicos (e de outros resquícios de um outro tempo) só para usufruir de um programa de concertos vespertinos e nocturnos que incluía velhos monstros do blues batidos em juke joints como Mississippi John Hurt, Son House ou Memphis Slim; o guru da folk Pete Seeger, cuja omnipresença o confundia com o do dono do festival; uma barrigada de bom gospel e de outra música religiosa que nos pode merecer o perdão de uma vida menos católica (dá para juntar a melomania e a salvação final?, vinha mesmo a calhar); algumas garras de bluegrass à solta; e Odetta no seu esplendor. E, no final, faria claque pelo Bob Dylan eléctrico que escalandizou quem acha que os músicos pertencem a géneros; e aconselharia os mestres do assobio a guardarem o seu talento para ocasiões em que o dom vocal de Joan Baez voltasse a atropelar as virtudes dos demais companheiros de palco.



GP

terça-feira, 15 de março de 2011

As aulas vão continuar

Faleceu há poucos dias um dos maiores bateristas de jazz, Joe Morello (1928-2011). Professor que ajudou a formar bateristas como Max Weinberg (da E Street Band de Bruce Springsteen), e que está a merecer memórias elogiosas de alunos que podem ser lidas nos comentários dos seus vários vídeos no YouTube, Morello teve como contributo decisivo para o jazz a sua participação activa no período fértil do Dave Brubeck Quartet (entre 1955 e 1968). A sua técnica revolucionária ajudou a fazer do álbum de Brubeck, "Time Out", uma das obras-primas do jazz, e está bem traduzida no tema imortalizado 'Take Five'.



GP

Ora bem, aí vem ele...


O tipo que há uns anos era o mais prolífico que existia na zona pop/rock, o candidato mais alinhado para assegurar uma transição suave quando Neil Young metesse os papéis para a reforma, o gajo que tinha uma boca com fel suficiente para nos fazer pensar que a autodestruição e a vida de pantanas também se fazia com uma guitarra acústica no colo, vem finalmente tocar a Lisboa e Porto, em Junho. Lá estaremos para o saudar, agora que ele já gosta de usar óculos e escrever livros de poesia.

O concerto será acústico, mas fica aqui uma velhinha recordação, de quando estava parado no trânsito criativo nos semáforos da avenida Bob Dylan com o viaduto Bruce Springsteen. Ah, é verdade, o tipo chama-se Ryan Adams e odeia a letra B.



GF

segunda-feira, 14 de março de 2011

Omar salgado

Salgado ou não, o sírio Omar Souleyman é a mais recente 'vítima' das mandíbulas pop de Björk. Parece que a islandesa terá convocado a super-estrela de óculo escuro, bigode-artur-jorge e techno árabe nos ouvidos para se lhe juntar numa lançamento conjunto que acontecerá mais lá para o final do ano. Logo ouviremos se foi tão bom para ele como foi para ela (ou será o contrário?).

Em jeito de recordação, fica este 'Declare Independence', o tema mais explosivo do último álbum - Voltaic. Ou, na nossa versão, Voltaicqéssemprebemvinda'.



GF

Just Kids (2010)


Quinzena Temática – produtos de Brooklyn em destaque

É um dos livros mais belos, despudorados e generosos de que a mitologia rock alguma vez se poderá orgulhar. O relato da relação entre Patti Smith e Robert Maplethorpe, pela mão dela e por promessa a ele, é uma prosa de evidentes qualidades literárias (venceu o prestigiado National Book Award e as canções de Patti não deixam muito a adivinhar para o seu talento em páginas A5), mas sobretudo de partilha abnegada de uma história de amor, amizade, cumplicidade artística e tudo o mais. Sempre com Brooklyn a correr em pano de fundo.

É de uma ternura e uma candura poéticas que quase o lançam para terras da ficção, mas ao mesmo tempo puxado para o lado de cá da vida por uma honestidade desarmante relativamente à pobreza romântica em que os dois viviam, bastam-se um ao outro, à paixão febril que os consumia e fazia de cada um a fonte de inspiração do outro, com Rimbaud na mesa de cabeceira.

'We were as Hansel and Gretel and we ventured out into the black forest of the world. There were temptations and witches and demons we never dreamed of and there was splendor we only partially imagined. No one could speak for these two young people nor tell with any truth of their days and nights together. Only Robert and I could tell it. Our story, as he called it. And, having gone, he left me the task to me to tell it to you'.



GF

domingo, 13 de março de 2011

Clap Your Hands Say Yeah


Quinzena Temática – produtos de Brooklyn em destaque

A transparência da internet deu justiça célere a um dos melhores álbuns pop-rock dos últimos anos. Da edição de autor quase anónima ao destaque do site Pitchfork, foram apenas precisos poucos dias e milhares de excitados interlocutores. "Clap Your Hands Say Yeah" é uma colecção de canções que tem tudo para viciar grupos de amigos e casais amorosos e originar o passe-a-palavra de post em post. O encanto adolescente daquelas canções desenhadas a regra e esquadro para ouvidos alheios desvaloriza a colagem excessiva dos maneirismos vocais de Alec Ounsworth a David Byrne ou o conformismo do quinteto com o formato pop-rock tal como sempre o conhecemos.

O segundo álbum é também um segundo capítulo na história do grupo nova-iorquino. "Some Loud Thunder" é uma traição à geometria direita de "Clap Your Hands Say Yeah". Podem ter pago com isso um preço elevado com o menor reconhecimento público, mas vincaram um posição autoral pelas melhores razões.

Entretanto, estão num impasse há quatro anos. A carta de desejos de bom regresso está pronta há já algum tempo – terá sido redigida em vão?


GP

América, América, América, América

A interpretação de 'Highwayman' pelos Arbouretum estimula uma pequena viagem até à origem do tema, escrito e composto pelo músico Jimmy Webb. A extraordinária letra, adensada com aquela pontinha de enigma, é um pouco a história da alma brava americana, reencarnada em quatro personagens: o salteador de estrada (o Highwayman), o marinheiro, o construtor de barragens e o astronauta.

Quatro dos grandes foras-da-lei do country - Johnny Cash, Willie Nelson, Kris Kristofferson e Waylon Jennings – apanharem bem as cinzas deste rebelde, espalhadas algures entre os rios do Colorado selvagem, o mar do México, a linha férrea ou o espaço. Os quatro tomaram-lhe o espírito sob o nome Highwaymen.



GP

sexta-feira, 11 de março de 2011

Na Montra

Recensão semanal a vários discos recentes

R.E.M. – Collapse Into Now

Um punhado de boas canções abrilhantadas por uma voz poderosa, por um guitarrista (e bandolinista) com passe para as mais variadas zona musicais e por um baixista/teclista de coros afinados e sensibilidade pop, e uma maleabilidade fácil de toda a nau entre a neura eléctrica e a meditação baladeira, deveriam ser factores suficientes para o convencimento geral... caso não estivéssemos a falar dos R.E.M.

Tal como ao FC Barcelona não basta uma vitória tangencial no relvado, é imperativa uma goleada; ao R.E.M não basta um bom disco, pede-se-lhes que arrasem. No meio de um discogafia tão esplendorosa e numerosa como é a da banda de Michael Stipe, "Collapse Into Now" arrisca o destino ingrato de sombra. À escala de R.E.M., este 15º álbum tem um sabor rotineiro. Mesmo que seja bom.




Lykke Li – Wounded Rhymes

Desde "Youth Novels", passaram três anos, mudou-se o cenário, mas Lykke Li não mudou assim tanto. Foi a Los Angeles, diz a própria, à procura de um encontro furtuito com David Lynch, ou para sentir os deslumbramentos e fantasmas dalguma Mullholland Drive. Não encontrou Lynch. Mas reencontrou-se a si mesma, de volta ao sítio onde estava, entre os sonhos rosados de Björk e os pesados de Fever Ray dos Knife, continuando a ser aquela viking guerreira do tambor, de voz ameninada e som glaciar. O forte conjunto de 10 canções alonga o estado de graça iniciado com o disco estreante "Youth Novels".
Artigo baseado em texto assinado para o Cotonete.


Arbouretum - The Gathering

No território sombrio e infernal dos Arbouretum, a voz colossal do guitarrista David Heumann parece cair directamente do paraíso, imprimindo uma musicalidade ternurenta a um arrastamento que é cavernoso e que tem parentesco com os Black Sabbath e o doom. Nesta espécie de grunge em câmara lenta, 'Destroying to Save' merecia devolver a rádio às apostas de risco no rock. Apenas ficam a perder na versão do tema clássico do country 'Highwayman'. Merecem ser seguidos.



PJ Harvey – Let England Shake

A mutante PJ Harvey é desta vista num inesperado triângulo entre Cocteau Twins, Shirley & Dolly Collins e o general Loureiro dos Santos, mas a milhas de distância de cada um deles. Etérea mas de dimensão demasiado grande para caber num expositor da 4AD; com rock encorpado a mais para se ficar na folk de um cenário bucólico de Jane Austen; e mergulhando na história militar britânica mas com a cabeça de uma recriadora.

Polly Jean volta ao seu conselho de colaboradores intermitentes (os velhos conhecidos Mick Harvey e John Parish, e o menos habitual baterista Jean-Marc Butty) para mais uma vez mudar, espalhando surpresas como o contraponto com uma voz masculina com quem trava os diálogos das 12 novas canções, ou samples de sons étnicos e militares.

Aquela margem indefinida entre rock e folk, com cheiro a scones e a maresia da costa sul britânica, foi palmilhando caminho há alguns anos. E talvez a metade final de "Uh Huh Her" tivesse sido o grande prenúncio para "Let England Shake", a obra maior de sempre de PJ Harvey.



GP

Cantiga da rua



Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Mas o alerta das suas canções mantém-se. Zeca despediu-se dos palcos naquela noite de Janeiro de 1983, não de nós. Não da rua.

GP

quinta-feira, 10 de março de 2011

Godard, Truffaut: Go! Team


E como hoje se estreia nos cinemas UCI (que é como quem diz no Corte Inglès) o documentário Godard/Truffaut - Os 2 da (Nova) Vaga, de Emmanuel Laurent, nada como pôr a boa gente dos Go! Team a fazer a justa homenagem a dois dos maiores realizadores do nosso tempo. É ver, com olhos de ouvir.



GF

Não estava lá, não estava lá


Serve a capa da presente edição do New Musical Express para apresentar esta micro-secção, destinada a carpir as mágoas de não termos estados onde deveríamos ou quereríamos.

Há um momento de que me recordo especialmente de não ter presenciado. Lembro-me como se fosse hoje que nunca vi as Throwing Muses com a sua formação original: Kristin Hersh, Tanya Donelly, Leslie Langston e Dave Narcizo. Aquela música nervosa, psicótica, rock ansioso, com úlceras a despontar a cada compasso era coisa especialmente explosiva em concerto. Dizem-me os vídeos com que me fui cruzando ao longo dos anos. E diz-me a certeza de que nunca me cruzei com outra música tão urgente e arrepiante. O melhor rock da minha vida está aqui, nestas quatro pessoas num mesmo disco ou num mesmo palco.

Não me esqueço especialmente de um famoso concerto dos Pixies que a RTP passava e terminava com Frank Black a dizer 'Throwing Muses are up next'. Nem então eu estava lá. Ou melhor, elas não estavam - eu não mudava de canal, mas o canal mudava de programa.



GF

quarta-feira, 9 de março de 2011

Eternos



Enquanto ninguém se lembra de fazer um biopic sobre a acidentada vida do extraordinário vocalista David McComb (1962-1999), vão sobrando imagens ao vivo, poucas, que são uma relíquia. Como esta acima, gravada num festival australiano, onde não falta aquela pontinha de sarcasmo típico daquela ilha na introdução de Wide Open Road. O sucesso foi sempre uma miragem para os Triffids, mesmo naqueles dias mais esperançosos pós-Born Sandy Devotional. Uma injustiça, claro. É preciso mesmo a sétima arte dar uma ajuda? Ou guarda-se o segredo?

GP

David Sitek


Quinzena Temática – produtos de Brooklyn em destaque

Deus costuma estar em todo o lado. David Sitek também. Sobretudo em Brooklyn, onde muito operou como músico e produtor, até se irritar com o hype à volta do borough mais cool de Nova Iorque e migrar para a costa oeste soalheira.

É justamente muito associado a esse furacão industrial de nome TV on the Radio, até porque é seu membro efectivo. Mas, entretanto, foi construindo o seu próprio casulo que deu asas como Maximum Balloon, uma espécie de UNKLE deste tempo para o qual convida quem bem entende (de David Byrne a Theophilus London, entre outros ícones actuais).

Mas o seu CV de grande pensador de música deve muito ao seu trabalho de produtor. Liars, Holly Miranda ou os Foals já estiveram sob as suas mãos de cirurgião. Entre os trabalhos mais notáveis, contam-se a metamorfose dos Yeah Yeah Yeahs da antiga rebelião punk para a nova harmonia cinematográfica (no álbum "It’s Blitz!") ou a proteção à menos dotada princesa Scarlett Johansson com umas nuvens de dream pop em "Anywhere I Lay My Head", num trabalho de pinças que se saldou numa saudável viragem do avesso ao reportório de Tom Waits.



GP

terça-feira, 8 de março de 2011

1...


De Angles, que sai a 21, conhece-se ainda apenas o single Under Cover of Darkness. E, infelizmente, parece que as razões para verdadeira celebração terão de esperar pelo segundo álbum a solo de Casablancas. Apesar das guitarras nos conquistarem de imediato e de chegar a cheirar a grande canção. Mas não o é. É apenas mais uma. E mais uma inferior a qualquer uma das que compõe Is This It. Pode ser que seja apenas o isco errado para um disco brilhante. Só que não parece. Podia parecer. Mas não parece. Podia dar esperança. Mas não dá.



GF

2...


Depois veio um segundo disco com dor de burro, de quem já esgotou os trunfos todos na primeira volta e então, em desespero, faz tudo igual na esperança de que ninguém dê por isso. First Impressions of Earth ainda recuperou alguma frescura, mas de uma forma um pouco desorientada. E o melhor que os Strokes lançaram depois do disco de estreia foi mesmo o disco a solo de Julian Casablancas, Phrazes for the Young, no final de 2009. Em vez de guitarras gingonas, sintetizadores a escorrer óleo. Um mimo.



GF

3...


Já lá vão dez anos desde que os Strokes lançaram o seu primeiro disco, Is This It. Com o tempo, uma certeza foi petrificando: o entusiasmo da altura não era imerecido ou sequer uma histeria rock passageira. Is This It continua a ser um dos melhores objectos rock da História recente e impõe-se que nunca desapareça das listas dos álbuns mais marcantes do início do século XXI. Hard to Explain faz com que seja demasiado fácil explicar porquê.



GF

segunda-feira, 7 de março de 2011

Coney Island Baby (2002)


Quinzena Temática – produtos de Brooklyn em destaque


Coney Island é uma península na zona sul de Brooklyn, famosa pela sua praia, mas sobretudo pelo seu parque de diversões. Rodas gigantes com vista privilegiada para Nova Iorque, algodão doce e pipocas, anões levantadores de pesos e todo um conjunto de pormenores que caminham para as tendas de circo com gente estranha, onde os carneiros com cinco patas e as cabras com três cabeças são, seguramente, reais. Este cenário, mais as espingardas que se bem disparadas dão direito a ursos de peluche, as montanhas-russas e os pequenos criminosos que por ali se passeiam, são o pano de fundo para uma das mais belas canções de amor de todos os tempos. Como a descrição sugere, o autor dessa canção é Tom Waits. Coney Island Baby faz doer o coração de tão belissimamente desamparada e é um dos temas mais marcantes de Blood Money, álbum editado em 2002 e feito de temas compostos para a peça de teatro Woyzeck - texto de Büchner, numa encenação de Robert Wilson.

Bendita a mulher que merece ser cantada assim: 'She's my Coney Island baby'.



GF

Corredores de fundo



Já lá vão 15 anos de Drive-By Truckers e ainda não há sinais de esmorecimento. O nono álbum da banda de Patterson Hood, o mais calmo "Go-Go-Boots", volta a colocá-los no pódio do country-rock que tão bem conhecem.

GP

Blue in the Face (de 1995)


Quinzena Temática – produtos de Brooklyn em destaque

Gravado em cinco dias como uma sequela de "Smoke", "Blue in the Face" é uma salganhada (elogio!) de ficção com realidade, cuja rodagem informal e improvisada permite-nos momentos de confidência deliciosos como o último cigarro que Jim Jarmusch faz questão de fumar na loja de Harvey Keitel (e a inerente aula de cinema).
Durante os 89 minutos desta ode a Brooklyn, aquela torna-se na nossa loja preferida. Quanto ao filme, recomendo-o ao Macário Correia.

Longa-metragem realizada por Wayne Wang e Paul Auster, e exibida nas salas portuguesas em meados dos anos 90 sob o título Fumo Azul.



GP

sexta-feira, 4 de março de 2011

Canção gigante



Cantar assim aos 21/22 anos é uma provocação. Escrever canções deste calibre aos 21/22 anos é chamar-nos "meros curiosos e amadores" e esfregar-nos essas palavras na cara até ficarem coladas no queixo, na testa, nas bochechas. Rolling in the Deep, de Adele, é uma das canções mais espantosas que vamos ouvir este ano.

GF

quarta-feira, 2 de março de 2011

E há 20 anos...



Faz hoje 20 anos que Serge Gainsbourg se finou. Com ele, levou para a cova uma forma de fazer canções que nunca mais teve representantes à altura: a elegância da chanson, em deliciosa promiscuidade com os blues, o rock sujo e as cordas insinuantes e que soam como nenhumas outras a sexo nos violinos. Initials BB é disso exemplo. Hoje, é publicada uma caixa com 284 músicas, a integral das suas gravações. Mas nada será demais para recordar um homem que tornou a decadência a maior das armas de sedução (isso e canções, uma vez mais, que são obras-primas por si só).

GF