sábado, 30 de abril de 2011

Não Estava Lá, Não Estava Lá


Jesus & Mary Chain - Londres, 1985


As recordações dos concertos rock dos anos 80 por parte do «pessoal da vanguarda» nascida na década de 1960 (e talvez mesmo na década de 1950) tem por anexo recorrente ambientes hooliganescos: janelas partidas, garrafas de vidro arremessadas para o palco, uns quantos murros entre gente que não se conhecia ou cadeiras arrancadas (quando havia). Filas indianas na direcção da sala de espectáculos parecia um cenário utópico dalguma era romana.

Foi também num barril de pólvora que os Jesus & Mary Chain começaram a aparecer, durante as primeiras invasões bárbaras a Londres. Jim Reid dava socos no microfone enquanto rebolava no chão, o irmão William estilhaçava ouvidos com os seus feed-backs e a abreviada bateria de Bobby Gillespie permitia-lhe tocar de pé. Eram mauzões mas tinham pinta. Dentro daquele som primitivo, o rescaldo era um revolucionário híbrido de Sex Pistols com Velvet Underground, com sotaque escocês... As mães não faziam ideia ao que os filhos iam.

A devastação, alimentada pelas músicas de "Psychocandy" (o álbum de estreia dos Jesus), ganhava um sentido literal e tinha duas partes: primeiro no palco, depois na plateia. Quem partia mais, não sabemos.









GP

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A arte da não desistência


Ainda bem que não desistiram e não se enfiaram num buraco depois do disco de estreia ter sido tão criminosamente desprezado pelas gentes. Os doismileoito anunciam que estão de volta ao estúdio para, pela segunda vez na sua carreira, errarem no ano. 2011 vai ter disco novo que, espera-se, há-de dar-lhes o público que antes lhes faltou. Enquanto não há temas novos - o primeiro single deverá aparecer dentro de um mês -, fica esta bonita recordação.



GF

terça-feira, 26 de abril de 2011

Nem sempre o desemprego é uma coisa má - parte 1


Ele ficou desempregado, ela tinha duas semanas de férias por gozar. Foram os dois para uma localização remota no Havai e (ha)vai daí ele começou a empregar os tempos livres deixados pela autosubsistência para compor umas músicas inspiradas por Person Pitch, de Panda Bear, por sua vez inspirado por Smiley Smile e Pet Sounds, dos Beach Boys. De vez em quando, pedia-lhe a ela umas ajudas nas vozes. E aquilo que saiu foi isto: o projecto Houses, com esta gloriosa canção chamada 'Endless Spring.



GF

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Clássico na Loja: “Alta-Fidelidade” de Nick Hornby


O magnífico livro de Nick Hornby, “Alta-Fidelidade”, é um clássico para qualquer pessoa que atende numa loja de discos, incluindo aqui no Dupond e Dupont. Todos nós, sobretudo homens lojistas, nos revemos naquelas personagens. Todos nós temos um bocadinho de Rob (o patrão da Championship Vinyl) e de Dick e Barry (os seus empregados). Também atendemos com enfado os executivos com mau gosto, também falamos de gajas, também adoramos fazer todo o tipo de listas, também não temos muito jeito para grandes margens de lucro. E no entanto formamos um loja especial – especialmente disfuncional. É assim que funciona a loja de discos londrina Championship Vinyl, um dos cenários do livro, a par do apartamento de Rob e do pub onde actua a amiga norte-americana do trio de lojistas. Pelo meio, no meio de tudo, está a ex-namorada Laura, sempre a assaltar a mente deliciosamente egoista e ressabiada de Rob.

A mais insípida e americanizada versão cinematográfica do romance, realizada por Stephen Frears, faz-nos ainda gostar mais do livro. O que falta ao filme sublinha o que a obra de Nick Hornby tem: aquele humor britânico tão corrosivo e auto-crítico.

GP

domingo, 24 de abril de 2011

20 anos depois, o DVD


O documentário "The Year Punk Broke", de Dave Markey, vai deixar de estar apenas disponível no mortiço formato de videocassete. As filmagens da mítica digressão dos Sonic Youth em 1991 que apresentou à Europa os ainda desconhecidos Nirvana vão finalmente conhecer vida em DVD.

Faltavam meses, semanas, para o grunge fazer parte do léxico musical popular; os Sonic Youth eram uma instituição viva imune ao já existente contrato com a Geffen; e os ainda vivos Ramones também faziam parte desta tribo ambulante, tal como as riot grrrls Babes in Toyland, os camaradas indie Dinosaur Jr ou os mais esquecidos Gumball.

Algo se estava a passar em 1991 para merecer a teoria de Thurston Moore (um dos cabecilhas dos Sonic Youth) que dava nome ao documentário. As imagens, fortes, falavam por si.


GP

sábado, 23 de abril de 2011

Sra. ex-chanson


Fez-se pela mão de Benjamin Biolay (o seu toque é de Midas no que toca à canção francesa), mas depois da separação romântica entre os dois Keren Ann começou lentamente a afastar-se da matriz da nova chanson e prosseguiu na rota da internacionalização. 101, acabadinho de sair, promete instalá-la no mesmo pódio da canção com tapete de subtileza electrónica em que encontramos habitualmente Feist. My Name Is Trouble, diz-nos ela agora, com ar de quem quer reivindicar o papel de Bonnie (o Clyde pode ficar para Biolay, sem problema) para a pop dos anos 10. Ora seja bem regressada, dona Keren Ann.



GF

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Na Montra

Recensão semanal a discos recentes (e inteligentes)


The Naked and Famous – Passive Me, Agressive You
Espécie de Dirty Projectors mais comerciais, este estreante quinteto neo-zelandês também contesta a matemática dos teclados como uma ciência exacta, enquanto vai descobrindo intermitentemente o encaixe com formatos mais orelhudos. Com harmonias vocais poderosas no núcleo central (a teclista Alisa Xayalith e o guitarrista Thom Powers), um frenesim electro pujante e, por vezes, uma poesia synth auroral digna da limpidez das Au Revoir Simone, há por aqui sumo a causar sede de os ver no Palco Super Bock do Optimus Alive.
Artigo baseado naquele escrito para o site Cotonete.




The Unthanks – Last
O sereno projecto das manas Unthank, renomeado como The Unthanks ao terceiro álbum "Here's The Tender Coming", pertence justamente à corte da folk britânica. E ao quarto álbum, "Last", não dá sinais de desarmar, com um sentido de rebuscamento melancólico nivelado por cima, ao lado de uma Shelagh McDonald ou de um Nick Drake, e sempre com um fio de jazz oculto ali ao virar da esquina. "Last" é outonal mas não tem tempo. É de todos.




Panda Bear – Tomboy
Sabia-se que o nosso compatriota Panda Bear (sim, porque é casado com uma designer portuguesa e reside em Lisboa) pertencia ao clube do pessoal fixe com bom gosto, mas não se sabia que tinha bom gosto clubístico (pede-se neste momento fair-play aos partidários de outras cores). O aguardado quarto álbum "Tomboy" é rematado com o tema 'Benfica', dedicado ao clube da Luz, e inclui alguns sons de estádios de futebol. Mas é pouco provável que o tema passe nas colunas do Estádio Luz, lado-a-lado com a canção rockeira de António Manuel Ribeiro e o hino "Ser Benfiquista" de Luís Piçarra. Cremos nós.

Quanto ao disco, segue, sem grandes surpresas, o laboratório de pop electrónica dos seus Animal Collective, com momentos de Beach Boys neo-milenares até deslumbrantes (o tema-título Tomboy eleva as expectativas bem altas sobre o disco). Mas naquela cruzada de ideias, não se dá a Eureka, apesar das ameaças.




The Mountain Goats - All Eternals Deck
Serve o presente parágrafo para saudar o regresso à boa forma de John Darnielle (o dono dos Mountain Goats), que depois da obra-prima "The Sunset Tree" (de 2005) se apagou um pouco. Comandando actualmente um trio (ele mesmo, um baterista e um baixista), Darnielle recupera o dom da graça com malabarismos que tornam o pop-rock em algo bem menos previsível, numa linha muito semelhante à de Jonathan Richman. Como é normal, foca-se num tema em cada álbum. E desta vez, as cartas de Tarot são o centro da sua colheita cancioneira. Mas o Ás de trunfo é o próprio John Darnielle. Quem ficar com ele, tem tudo para ganhar.



GP

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A canção


Nos últimos tempos, esta tem sido a canção mais tocada em casa, na rua, onde quer que passe. Boa gente canadiana, fazedora de uma pop electrónica que evoca os Animal Collective (pois, mais uns...) mas vai muito além. Tudo nos Gobble Gobble é diversão e sentido lúdico, e os concertos desta gente devem ser coisa para levar à loucura qualquer pessoa com um mínimo de bom gosto. "Lawn Knives" anda por aí à solta na net ou num maxi raro. Não há notícia de quando chegarão ao álbum de estreia. Na verdade, não têm pressa. Nem precisam, que a reputação já alastrou sem esforço algum. É ouvir. E repetir.



GF

terça-feira, 19 de abril de 2011

Luisão intromete-se


Na tangente perante a mediocridade e o insucesso em que o Benfica tem vivido nos últimos anos, tem aparecido um gigante Luisão a contornar um guião com mau final guardado – em jogos de título, em eliminatórias europeias... Na passada noite europeia de quinta-feira, em Eindhoven, a história repetiu-se com o mesmo herói central.

Enquanto gelava interiormente a ver os golos do PSV, fui guardando um consolo moral (muito mais que isso): se aqueles noventa minutos enviassem o Glorioso para fora da Liga Europa, teria uma quinta-feira livre (dia 5 de Maio) para saborear no CCB um velho sonho, o de ver ao vivo Paolo Conte. Espero que o Benfica nessa quinta-feira me compense o futuro sacrifício. E que não perca (frente ao Sp. Braga), mesmo que eu já esteja.



GP

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Na Montra

Recensão semanal a discos recentes (e decentes também)



Adriana Calcanhotto - O Micróbio do Samba

O Micróbio do Samba é exactamente aquilo que se esperaria de um disco de samba de Adriana Calcanhotto. Como já se adivinhou, isto é «uma faca de dois legumes» (citando Jaime Pacheco). Ora se Adriana continua a - e por mais que pudesse esforçar-se nunca deixaria de - ser uma das mais entusiasmantes vozes da MPB dos dias que correm e nada neste disco se acerca da ideia de um disco falhado, por outro lado surpreende tão pouco que rapidamente o leitor cospe o CD e não o exige de volta. É como um daqueles bolos que sabemos que vai cair bem no estômago mas que vamos espreitando no forno e concluindo que, infelizmente, não cresce. Micróbio do Samba, audição após audição, também não.




Britney Spears - Femme Fatale

É o grande disco da diva pop. Ao contrário das suas concorrentes, Britney nunca teve uma voz elástica, capaz de a transformar numa contorcionista melódica empenhada em provar que numa só palavra consegue empregar três oitavas. E essa é a sua grande vantagem. Britney canta menos, mas por isso canta mais: Femme Fatale é o argumento derradeiro nessa discussão. São 12 canções tremendas, equilibradas numa pop electrónica de proveniência mais europeia do que norte-americana (não se trata de funk/r&b, nem tão pouco de bases de hip-hop), e "How I Roll" e "Gasoline" (mesmo que não venham a chegar a single) serão sempre dois dos maiores monumentos pop deste ano. Afinal, há vida depois de Paris Hilton.




Delicate Steve - Wondervisions

É história com qualidade de lenda: Will Glasspiegel, A&R da Luaka Bop, contratou Steve Marion e a sua trupe delicada antes sequer de lhes ouvir uma nota. Falaram sobre música, levou-os a jantar a um restaurante chinês e no dia seguinte as assinaturas estavam no papel. Da música conhecia apenas um vago plano de intenções. Até porque, convenhamos, descrever aquilo que aqui vai é tarefa para tirar alguém do desemprego. Faz tanto sentido que capa e título homenageiem Stevie Wonder como falar de Animal Collective tocados por Marc Ribot, John Lee Hooker produzido pelos Vampire Weekend, os White Stripes nascidos no Senegal, Prince no Aqui Há Talento a tocar Radiohead. A voz aqui pertence apenas à guitarra. Só que sem ser chato, boa?
texto publicado na Time Out Lisboa)




The Dø – Both Ways Open Jaws

Segundo álbum para este duo Ele & Ela. Ele é um compositor francês vindo do jazz, ela é uma cantora franco-finlandesa. E a música que assinam em conjunto é uma pop de amizade fácil: dá-se bem com o rock, com o hip-hop, com o jazz (pois claro), com a folk, com tudo o que sejam notas prontas a serem usadas sem qualquer condicionante estilística ou obrigação de vistos de trabalho. Embora não esteja ao nível do arrebatamento que foi A Mouthful, Both Ways Open Jaws continua a ter uma mão-cheia de boas canções e mais ideias por canção quadrada do que a maior parte das gentes apresenta num álbum inteiro.




Maylee Todd - Choose Your Own Adventure

Maylee Todd lembra, assim de repente, algum do desacerto em currículos universitários: é tão incrivelmente específico que custa a crer que sirva para alguma coisa. Mas a verdade é que a bossa nova haviana (ainda que a moça seja canadiana) de Maylee se afirma como um primor de frescura na enxurrada de novas edições que nos chegam a toda a hora. A sua valente dose de loucura psicadélica ajuda a fazer o resto da festa. Possivelmente nem se vai dar por chegar ao segundo álbum, mas o primeiro é perfeito para viagens de carro sem destino certo. Porta, chaves, ignição.



GF

domingo, 17 de abril de 2011

Prazer Culposo


Belinda Carlisle - tops model

Uma das compras que baralhou o meu perfil de cliente na Amazon foi de uma famigerada compilação de Belinda Carlisle, "The Best of Belinda Volume 1". Fiquei com a sensação que a maquinal e eficiente loja ficou sem saber se havia de me recomendar futuramente, através dos seus mails, outro disco dos 13th Floor Elevators, um álbum ao vivo do Thelonious Monk ou... um best of da T’Pau. Que cliente era este que eles tinham afinal?



A tentação carlisliana, a que não resisti, surgiu tarde, a meio de uma noitada de eighties no Pavilhão Atlântico há poucos anos, intitulada Be Here and Now. Estamos a falar de uma barrigada de guilty pleasures, e também de rejeições naturais, a que fui com todo o gosto profissional. Tratavam-se de seis pequenos sets ao vivo, tocados em contínuo por uma banda fixa. De poucas em poucas músicas, só mudava o interveniente principal – isto é, a estrela, ou o que restava dela. Na minha lista de secretos desejos, não constava ainda Belinda Carlisle, cujo o meu desprezo só durou até ao segundo em que aterrou no palco: deslumbrante, ainda lindíssima, altamente profissional, com um tipo de snobismo que se tornou num ponto de charme a seu favor, e, pelos vistos, a falar directamente para mim através de uma selecção de canções – 'Leave a Light On', 'Circle in the Sand' ou '(we want) The Same Thing' - que representavam a utopia da pop mainstream, com um tipo de integridade talvez derivada da irreverência new waver das Go-Go’s onde militou e vai militando. Conhecia aquelas canções mas não sabia que gostava delas. Passei a saber. Nunca é tarde.



Se pensarmos bem, pouco poderia separar a pop gloriosa e optimista de Belinda Carlisle da festividade dos B-52s. A diferença é que, a partir de um certo momento da vida (talvez em 1987), a beldade de olhos esverdeados e de pele bronzeada pelo sol da Califórnia tomou ferozmente o caminho da pop comercial, alimentada a alta velocidade por arranjos de teclados que nos lembram que este é um gosto perigoso. Mas que merece o risco.



A doçura da voz de Belinda Carlisle é um capricho que a empurra para a pop e que faz, nos seus trajectos, curvaturas tão agradáveis ao ouvido como são à vista as covinhas no rosto num momento de sorriso (imagino que também tenha essa benção). E, por isso, a cantora de Hollywood aceitou o jogo do mainstream mas com regras limpas, derivadas do seu mérito e ajudadas pela sua beleza, que fizeram dela uma figura modelar das tabelas de vendas desde os tempos das Go-Go’s.



GP

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Ó abençoados filhos dos animais


É quase a história de pontapear uma pedra e saltarem lá de baixo, com suspensões novinhas em folha, hordas de descendentes à espreita do seu momento de glória. Actualmente, não haverá outra banda tão influente na nova produção musical da esfera pop/rock quanto os Animal Collective. De todos os seus filhos, por registar oficialmente, os BRAIDS são um dos casos mais excitantes e promissores. Native Speaker, o seu disco de estreia, não saiu por cá. Mas isso não é desculpa para lhes vedarmos uma qualquer percentagem da nossa adoração. 'Plath Heart' é uma delícia irresistível. É ouvir aqui baixo...



GF

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Não Estava Lá, Não Estava Lá


Cascais Jazz 1971

Não estava lá. Não existia na altura. Nunca soube o que é sentir a omnipresença da PIDE. Nunca vi Miles Davis em carne e osso. Nunca tive aquele banho de jazz da era dourada. Nunca estive num grande evento com um PA do tempo da Maria Cachucha. Raramente vi palco tão estreito como aquele. Apenas posso reclamar muitos trajectos entre Lisboa e Cascais, mas nenhum deles foi para aquela edição histórica.











GP

Jazz muito a gosto (trocadilho com o alto patrocínio de Quim Barreiros)


Vai ser do melhor. Entre 5 e 14 de Agosto, o Jazz em Agosto 2011 apresenta um cartaz fortíssimo. Desde logo, o tresmalhanço brilhante de Cecil Taylor (na foto) ao piano, assim como o quarteto Hairy Bones, presidido pelo torpedo obrigatório do saxofone de Peter Brötzmann, incluindo o inevitável baterista norueguês Paal Nilssen-Love. O baterista subirá novamente ao palco no projecto que junta o seu duo com Ken Vandermark aos Ex-Guitars, num despique que tem o rock como de fundo, mas de tal forma esfrangalhado que nem o mais brilhante académico deverá conseguir estabelecer qualquer relação credível entre rock e o resultado final.

Rock é coisa que também não falta a FIRE!, o novo grupo do frenético saxofonista sueco Mats Gustafsson, numa fusão de heavy metal, electrónica e free jazz. Destaques para uma programação recheada de coisas muito, muito apetitosas. O calor já chegou. Só falta o jazz.



GF

segunda-feira, 11 de abril de 2011

1993 em Maio de 2011


Os Suede estão a regressar. E, acabámos de saber, vêm a Portugal para um concerto na Queima das Fitas do Porto, no dia 6 de Maio. Hoje podem ter-se tornado num fundo ao vivo de reforma, mas do primeiro ao terceiro disco, de "Suede" a "Coming Up", foram brilhantes, e foi nessa condição que encerraram gloriosamente a primeira edição do Festival Sudoeste 1997. Os ânimos estavam então acessos, cigarros mal apagados por um muito magrinho Brett Anderson eram apanhados e fumados por apaixonadas fãs e, quando de repente começam a tocar 'Animal Nitrate', vejo alguém a chorar descontroladamente. Talvez o vídeo abaixo possa ilustrar um pouco o que se passou, mas com uma diferença: neste clipe, destacava-se ainda o guitarrista Bernard Butler. Era 1993.



GP

sábado, 9 de abril de 2011

A missa dos despenteados


A antena parabólica do bloco de prédios onde vivia permitiu-me ter como uma das poucas (mas pesadas) dívidas de gratidão à MTV Europe a exibição dominical do 120 Minutes, a que correspondi com uma lealdade religiosa. Se queria novidades, tinha duas horas (e o bom auxílio do gravador de vídeo) para naquelas noites me deslumbrar sofregamente com todos aqueles sons e imagens da trupe indie.

Noticia-se agora, bem certamente, que o programa vai regressar, para figurar na grelha da MTV2 (onde já esteve). Só a nível utilitário é que esta nova me pode ser indiferente. O programa foi um banho de revelações. O vídeo de 'Bellbottoms' dos Jon Spencer Blues Explosion foi um dos muitos momentos triunfais da relação emissor-receptor daquele tempo (primeira metade dos anos 1990) e daquele programa.



GP

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Na Montra

Recensão semanal a discos recentes


TV on the Radio - Nine Types of Light

O rock industrial dos TV on the Radio está neste quarto álbum menos ostensivo e mais desacelerado. Esta finta às expectactivas do que muitos dos seus fãs gostariam de ouvir está longe de ser uma má notícia. A pertinência do grupo mantém-se de pedra e cal, tal como a sua identidade, reconhecível em todas as condições desvantajosas hipotéticas: por poucos segundos que se oiça, por mais baixo que esteja o volume de som, "Nine Types of Light" tem o cheiro exclusivo dos TV on the Radio. Ainda não é desta que vem a obra-prima do grupo que lhes vai mudar a vida para sempre; mas o filme de suspense que tem sido o seu percurso prossegue com interesse.




Link – Longplay

O produtor Rui Vieira, através do seu pseudónimo Link, não consegue sair da retaguarda mesmo quando é ele finalmente a tomar o comando autoral de um projecto discográfico, neste álbum de estreia.

E o que fez ele neste disco? Um belo híbrido afroamericano de funk, soul e hip hop, com o apadrinhamento de New Max (dos Expensive Soul) nas qualidades de co-produtor, e um casting interessante de vocalistas e MCs, dos quais se destaca o velho conhecido de Link, NBC, que dá voz ao primeiro single, 'Dá-Me Uma Chance'.

O recheio assíduo do som de metais, o bom groove e, porque não dizer?, uma certa coolness dão crédito àquela que é uma das melhores estreias discográficas em solo nacional dos últimos meses. Portugal está a ficar mais funky.




The Dears – Degeneration Street

A maior banda brit do momento habita no Canadá, em Montreal, e chama-se The Dears. Mas a proclamação tem apenas a efemeridade das primeiras canções de "Degeneration Street", quando já aparecem nas notas de rodapé dos nossos cérebros expressões como «que disco de outro mundo!», «os Kaiser Chiefs ao pé disto parecem bobos da corte junto dos verdadeiros reis, os Dears», «olá Blur e Pulp, eles também estão aqui». Enquanto põe toda a carne toda no assador, são até a maior banda indie do planeta.

Mas depois do deslumbramento e do sonho, de que é responsável a cadeia em série inicial das melhores canções pop do ano (da nº 1, 'Omega Dog', à nº 4, 'Thrones', que chegaram a ter por alguns minutos), a realidade lá apareceu, pelo menos a dos Dears: não necessariamente desmotivante, apenas um bocadinho menos fogosa, mais banal, mortal e descendente em tudo o depois vão fazendo. Excepção, claro, a outro pico alto, de milhares de metros sobre o nível do mar: a nº 9, 'Stick With Me Kid', ou o ouro escancarado para qualquer radialista de bom gosto.




Bill Callahan – Apocalypse

Música de planos fixos; perspectivas de natureza morta; o ar tenso, fechado, austero e também charmoso do ex-Smog como se o rosto de Callahan se conseguisse colar às suas canções; um burburinho velvetiano com chapéu de cowboy e um conformismo poético do country de Townes Van Zandt. Toda esta caravana de méritos volta a instalar-se noutro álbum, mesmo que a cartilha pareça já estar a esvaziar-se perante a grandeza de outras passagens - "Woke on a Whaleheart" (de 2007) é o caso.


GP

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Há o FMI... e os EMF


Em dia fatídico para os destinos desta gente que somos nós, nada como refazer a sigla e fazer do FMI EMF. Se tudo correr bem, demoram-se cá tanto tempo quanto os EMF na sua relevância. Por muito que até simpatize com os Epsom Mad Funkers.



GF

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A ouvir antes da chega do FMI


Parecem uns Animal Collective durante um apagão e só por isso merecem todo o amor e carinho que lhes possamos prestar. No Color vai ser um dos discos do ano. A menos que até nisso o FMI nos obrigue a cortar e só possamos vir a escolher 3,7 álbuns de 2011. Por enquanto, acredito que No Color venha conseguir a fatia de 0,7.



GF

terça-feira, 5 de abril de 2011

Forever Young


Um dos filmes anunciados para a secção IndieMusic, do festival IndieLisboa, que vai decorrer entre os dias 5 e 15 de Maio, é o documentário de Jonathan Demme sobre Neil Young, "Trunk Show". O realizador, mais conhecido no campo da ficção graças a filmes como "O Silêncio dos Inocentes" e "Selvagem e Perigosa", tem sido um exímio documentarista, optando por um formato, o filme-concerto, em que a sua maior intervenção é a sua aparente ausência. Mas é o seu olho de águia e de cineasta que nos dá a ver para sempre e em condições privilegiadas aquilo que foi a festa dos Talking Heads no seu auge (através de "Stop Making Sense", curiosamente o filme que o projectou), Robyn Hitchcock ao vivo num pub ("Storefront Hitchcock") ou Neil Young no histórico Ryman Auditorium, em Nashville (no ternurento "Heart of Gold"). Aguardamos com expectativa a segunda obra da trilogia de Demme sobre Young, há razões para isso.



GP

Maximum City - Bombay Lost and Found (2004)


Quinzena temática - Produtos da Índia em destaque

Para todos aqueles que se deliciaram com o Tigre Branco, de Aravind Adiga, fiquem sabendo que aquilo que Adiga faz em ficção já estava (quase) tudo aqui, no magnífico livro de Suketu Mehta, que relata a sua própria experiência. Nada de fantasia por estes lados, apenas um grande, grande livro escrito por um jornalista indiano no regresso a uma casa que deixara de reconhecer como sua.

A base é relativamente simples: Mehta saiu ainda novo de Mumbai para estudar e começar a exercer a sua profissão de jornalista. Foi parar a Nova Iorque. Casou-se. Teve dois filhos. E depois começou a perceber que a discriminação que a sua prole sofria na pele (e também devido a ela, mas também ao cheiro dos farnéis que levava de casa) era demasiado injusta para que os miúdos não merecessem crescer entre iguais. Dá-se então o regresso a uma cidade que Suketu deixara de conhecer. E muito do que se passa no volumoso tomo de Maximum City tem que ver com essa redescoberta dura da cidade-natal, a aprendizagem de códigos e regras que Mehta ignorava e o choque violento entre a imagem imaculada de Mumbai no passado com uma metrópole explosiva e cheia de camadas subterrâneas.


Não há palavras que lhe façam justiça. A capa dá a ideia de ser um livro de viagens mole, chatinho, mas depois de cinco páginas é impossível largá-lo. O meu foi comprado em Varanasi, a três passos do Ganges, e foi companhia de longas viagens de comboio. A propósito, acho que vou voltar a pegar-lhe...

GF

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Granda urso


Agora que está quase aí a chegar Tomboy, o álbum de Panda Bear que todos juram antecipadamente ser o melhor álbum de 2011, recordemos um tema de Person Pitch. Foi mais ou menos nesta altura, com menos pilosidades faciais do que se seria de esperar, que nasceu o Brian Wilson do século XXI...



GF

Lassi de hortelã


Quinzena Temática – produtos da Índia em destaque

Quando se pensa em restaurantes indianos e em refrescos, pensa-se em lassi, essa bebida deliciosa que envolve, invariavelmente, iogurtes e quase invariavelmente o sabor de manga. Bem dito: quase. Para os possuidores dessa super-heroína da cozinha chamada Bimby (o aparelho que faz tudo menos assados), há uma opção bem mais natural e menos química (não há cá concentrados oriundos sabe-se lá de onde), que dispensa a manga e recomenda como alternativa as poderosas folhas de hortelã. Este lassi esbranquiçado é um refresco de prático e doméstico labor e de ainda melhor degustação. Venha o Verão num minuto!

Ingredientes:
400 gramas de água
200 gramas de gelo
40 gramas de açúcar
2 iogurtes naturais
12 folhas de hortelã sem talo

Preparação:
Coloque todos os ingredientes no copo da Bimby e programe 1 minuto na velocidade 9.

Fonte: manual Bimby Alternativas


GP

Prazer culposo


Warrant: querido rock Isabel Queiroz do Vale

Hair-metal para uns, glam-metal para outros. A primeira designação tinha uma conotação negativa, de quem chama a atenção para aqueles homens feitos quererem por força parecer-se o mais possível com mulheres e, ainda assim, reclamarem a sua virilidade por inteiro; a segunda, pretendia chamar a atenção para uma dignidade musical que poucos lhe reconheciam - e traçando uma linhagem, por vezes forçada, de bandas como T-Rex, New York Dolls ou Cheap Trick.

Down Boys (Dirty Rotten Filthy Stinking Rich, 1989)


Na verdade, aquilo que Warrant e outros como Poison, Mötley Crüe, Danger Danger, Enuff Z'Nuff, Faster Pussycat, Tigertailz ou Pretty Boy Floyd (a eles voltaremos, naturalmente) faziam era acompanhar os power chords do heavy metal com uma dose hiperbólica de açúcar. O género foi um fogacho que se acendeu no início da década de 80 e foi assassinado pelos Nirvana em 1991. A partir daí, o look Isabel Queiroz do Vale foi abandonado, as poses endureceram, as canções ficaram menos melosas. E apareceram os melhores discos de muitas destas bandas - Whipped!, para os Faster Pussycat, Flesh & Blodd, para os Poison, ou Dog Eat Dog, para os Warrant. Injustamente, a sua reputação estava irremediavelmente perdida.

Uncle Tom's Cabin (Cherry Pie, 1990)


Ficaram perdidos no passado, varridos para debaixo de um tapete de vergonha adolescente. Os Bon Jovi, reconvertidos em rock de estádio no arame, foram talvez os únicos a sobreviver sem ficarem confinados a uma sobrevivência arrastada por pequenos clubes norte-americanos, a tocar para pais e mães com barriga de cerveja, em busca de hora e meia de regresso ao liceu. Os Warrant foram, no entanto, uma das melhores bandas do movimento. E não há vergonha nenhuma nisso. Ou talvez só um bocadinho, vá...

Machine Gun (Dog Eat Dog, 1992)


The Bitter Pill (Dog Eat Dog, 1992)


GF

domingo, 3 de abril de 2011

O Mundo de Apu (de 1959)


Quinzena Temática – produtos da Índia em destaque

Em bom futrês, a vida do estudante e pretendente a escritor Apu foi tendo uma reviravolta de 360º, de altos e baixos, do desleixo preguiçoso ao capricho da sorte (um casamento com uma bela mulher), à tragédia (a rápida viuvez) e à loucura. Foram, na verdade, várias reviravoltas e vários os mundos de Apu.

O filme de Satyajit Ray é do país do Bollywood, mas está nos seus antípodas estéticos. É dos livros chamar-lhe um clássico do cinema indiano. Mas muito mais importante que isso, o final tocante desta longa-metragem dá ao cinema mais um dos milhares de argumentos para ser chamado de sétima arte.



GP

sábado, 2 de abril de 2011

Om Shanti Om

Quinzema temática - produtos da Índia em destaque


É um dos maiores blockbusters dos últimos anos em Bollywood. Chama-se Om Shanti Om, é realizado por Farah Kahn, protagonizado pela mega-estrela Shah Rukh-Khan (não deve haver homem mais idolatrado em todo o país) e pela jovem revelação Deepika Padukone. A história, como em quase todos os filmes de Bollywood, é do domínio do sonho e do fantástico.

Se, por um lado, é mais uma variação sobre o rapaz pobre que consegue desenlatar-se do bairro de lata e vingar contra tudo e contra todos, junta ao inevitável enredo de amor arrebatador uma história de reencarnação. Visualmente é dos filmes mais portentosos de Bollywood, as coreografias são não menos do que magníficas e a banda sonora - assinada por Vishal-Shekhar - é qualquer coisa de sublime. A descobrir num qualquer Martim Moniz perto de si.



GF

Asha Bhosle e Lata Mangeshkar

Quinzena temática - produtos da Índia em destaque


Houve um tempo dourado em Bollywood, entre os anos 40 e os 70, em que praticamente não havia filme onde as protagonistas não fizessem uso das vozes das irmãs Asha Bhosle e Lata Mangeshkar. Aquele registo hiper agudo, com melodias espantosamente sinuosas, capaz de nos transportar instantaneamente para um transe doce e quente, é a imagem de marca primeira dos filmes de Bollywood - aliado, claro, às espaventosas coreografias.


Ora a omnipresença das duas cantoras - as rainhas do playback - fez delas duas figuras idolatradas em terras indianas, exemplo maior de como se deveria nos filmes mas também fora deles, e ajudou a uma versatilidade absolutamente deslumbrante: baladas melosas, canções dos Alpes com vozes a ecoar interminavelmente por cima de montanhas de violinos em delírio, funk infecto da melhor safra ou temas de espionagem capazes de fazer corar James Bond de vergonha ou abuso de picante.

Asha (que tocou no FMM de Sines em 2008 e levou a uma deslocação em massa da comunidade indiana em Portugal; homenageada no tema dos Cornershop 'Brimful of Asha') e Lata são duas descobertas essenciais e que marcam indelevelmente a cinematografia e, mais ainda, a música indianas. As canções, quase sem excepção, são uma perdição de charme que carrega tanta cor quanto todo aquele extenso, misterioso e magnífico país.





GF

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Martina voa sobre o Alentejo


Martina Topley-Bird, a mulher que ajudou Tricky a fazer o supra-maravilhoso-hipnótico-influente Maxinquaye, está em Portugal por estes dias a apresentar Some Place Simple, terceiro disco de uma carreira que começou bem lá por cima, mas depois murchou um pouco. Ainda assim, excelente oportunidade para espreitar em Beja (hoje), Portalegre (amanhã, 2) e Alcobaça (domingo, 3) uma das vozes que se associa de imediato ao trip-hop.

A recordação vai para o primeiro álbum, Quixotic, uma pérola pop que ficou, infelizmente, perdida no tempo. Aliás, o próprio disco tinha como deliciosa característica estar perdido no tempo. Até já, Martina.



GF