domingo, 17 de abril de 2011

Prazer Culposo


Belinda Carlisle - tops model

Uma das compras que baralhou o meu perfil de cliente na Amazon foi de uma famigerada compilação de Belinda Carlisle, "The Best of Belinda Volume 1". Fiquei com a sensação que a maquinal e eficiente loja ficou sem saber se havia de me recomendar futuramente, através dos seus mails, outro disco dos 13th Floor Elevators, um álbum ao vivo do Thelonious Monk ou... um best of da T’Pau. Que cliente era este que eles tinham afinal?



A tentação carlisliana, a que não resisti, surgiu tarde, a meio de uma noitada de eighties no Pavilhão Atlântico há poucos anos, intitulada Be Here and Now. Estamos a falar de uma barrigada de guilty pleasures, e também de rejeições naturais, a que fui com todo o gosto profissional. Tratavam-se de seis pequenos sets ao vivo, tocados em contínuo por uma banda fixa. De poucas em poucas músicas, só mudava o interveniente principal – isto é, a estrela, ou o que restava dela. Na minha lista de secretos desejos, não constava ainda Belinda Carlisle, cujo o meu desprezo só durou até ao segundo em que aterrou no palco: deslumbrante, ainda lindíssima, altamente profissional, com um tipo de snobismo que se tornou num ponto de charme a seu favor, e, pelos vistos, a falar directamente para mim através de uma selecção de canções – 'Leave a Light On', 'Circle in the Sand' ou '(we want) The Same Thing' - que representavam a utopia da pop mainstream, com um tipo de integridade talvez derivada da irreverência new waver das Go-Go’s onde militou e vai militando. Conhecia aquelas canções mas não sabia que gostava delas. Passei a saber. Nunca é tarde.



Se pensarmos bem, pouco poderia separar a pop gloriosa e optimista de Belinda Carlisle da festividade dos B-52s. A diferença é que, a partir de um certo momento da vida (talvez em 1987), a beldade de olhos esverdeados e de pele bronzeada pelo sol da Califórnia tomou ferozmente o caminho da pop comercial, alimentada a alta velocidade por arranjos de teclados que nos lembram que este é um gosto perigoso. Mas que merece o risco.



A doçura da voz de Belinda Carlisle é um capricho que a empurra para a pop e que faz, nos seus trajectos, curvaturas tão agradáveis ao ouvido como são à vista as covinhas no rosto num momento de sorriso (imagino que também tenha essa benção). E, por isso, a cantora de Hollywood aceitou o jogo do mainstream mas com regras limpas, derivadas do seu mérito e ajudadas pela sua beleza, que fizeram dela uma figura modelar das tabelas de vendas desde os tempos das Go-Go’s.



GP

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