quinta-feira, 7 de julho de 2011

Apontamentos Alive - 1.4 Anna Calvi


Quando Anna Calvi crava os olhos fulos e a chispar chibatadas no baterista, dói de ver. O homem falhou uma entrada em "Blackout" e quase caía do banco só de cruzar-se com o esgar discreto mas em jeito de "ou atinas ou levas no focinho" da senhora, tentando ao máxima manter a sua pose de senhora saída de vídeo de Robert Palmer com absoluto decoro e total elegância.

Dói de ver porque Calvi não tem telhados de vidro. Facilmente se percebe que tudo o que lhe sai da boca e das mãos chega num estado de depuração raro. Ela é perfeccionista, deve ser obsessiva até mais não, mas depois toca e canta e a gente arrepia-se para todo o sempre. Foi um concerto curto, como se impunha, teve direito a versão de Elvis Presley e nada foi deixado ao acaso.

Tudo nesta mulher lembra Jeff Buckley. As canções, virtuosas e com um tom de erudição em matriz pop, uma voz de qualidade líricas que rasga com quaisquer clichés possíveis, um amor fácil por Presley, Piaf, Callas, Cohen ou David Lynch, e um disco de estreia tão estupidamente bom que dá medo do que vem a seguir. A seguir, espera-se, não há-de vir destino semelhante ao de Buckley. Mas um perfeccionismo destes dá medo, ai isso dá.

Concerto, claro está, perfeito. Melhor do dia.

GF

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