sexta-feira, 1 de julho de 2011

Na Montra

Recensão a discos recentes que nos recusamos a vender.


Bon Iver - Bon Iver
Nunca se deve abusar da palavra génio, só se deve aplicar em casos extremos como o do álbum homónimo de Bon Iver. A obra brutal em menção tem como elementos de hipnose coisas tão maravilhosas como as marchas de bateria arrítmicas (engenho slowcore que conhecíamos dos Red House Painters) ou o permanente falsete de Justin Vernon que eleva a intensidade da experiência auditiva.

Um piano ou um outro teclado delapidam, com destreza de mestre, o diamante que ali está, no brilho contemplativo de 'Hinnom, TX' e de 'Calgary' (o primeiro single de "Bon Iver") que atiram Justin Vernon para a categoria de imortal. Caso a rendição não tenha acontecido antes, a última canção, 'Beth/Rest', é jogada de xeque-mate para qualquer par de ouvidos mais familiarizado com o mundo de folk-rock.

Corte e costura de artigo publicado no site Cotonete ao nível dos melhores alfaiates.




You Can't Win, Charlie Brown - Chromatic
Passam, genuinamente, por americanos. E só outro nome português consegue isso tão bem: Sean Riley & The Slowriders. Podem esconder-se e misturar-se no reportóro de Crosby, Stills, Nash & Young e conseguem inserir-se no melhor da indie-folk actual que vem da América do Norte, com alguns extras valiosos como travessias atmosféricas mais dadas aos gostos de Brian Eno ou acessos eléctrónicos súbitos e mais experimentais de uma nação próxima da dos Radiohead.

“Chromatic” é um álbum coeso que impressiona. Impressiona pela riqueza das músicas. Impressiona porque se trata de um álbum de estreia de um sexteto português que, tão precocemente, revela uma maturidade capaz de merecer uma divulgação nas páginas de uma Uncut ou de um Guardian, lado-a-lado com outros nomes familiares da folk-rock de hoje.

Corte e costura de artigo publicado no site Cotonete ao nível dos melhores alfaiates.




tUnE-yArDs - w h o k i l l
Se o nome do projecto individual do norte-americano Merrill Garbus e os títulos de discos a que dá corpo desobedecem às regras gramaticais de maiúsculas e minúsculas, também a sua música contraria as formas correntes. Este segundo disco encaminha-os para comparações com o rock engasgado, com picante africano, dos Vampire Weekend. O que no caso é um elogio, um ponto comum, e nunca um afunilamento ou uma cópia. Isto trata-se de produto autêntico, caro cliente. E é já uma das boas surpresas de 2011. Pode comprar que não lhe vendo. Daqui é que não sai a cópia.




Neil Young – A Treasure
Se não tiver nada para dizer sobre Neil Young e lhe apetecer mandar um tiro no escuro sobre o dito, sempre pode pegar naquela frase recorrente de que «o tipo não fez nada de jeito nos anos 80». Evite é dizê-lo à frente de pessoas que conheçam pérolas de Young como This Note's for You (1988) e Freedom (1989) ou mesmo este ao vivo A Treasure, gravado nas digressões americanas de 1984-85, que agora toma a forma de rodela. Está aqui o patego de chapéu cowboy no seu melhor, a sintetizar country, folk, blues e rock, harmonizando um imenso mundo instrumental de guitarras eléctricas, pedal steel e acústicas, pianos, bateria e excitados violinos num só palco, num só estilo, quase só ao alcance do canadiano. Quando o falecido colaborador de Neil Young e participante no disco, Ben Keith, ouviu estas canções, disse qualquer coisa como «pá, isto é um tesouro». Estava tão certo que o comentário mereceu o título. Um Jack Daniel’s ao Ben, toma conta dos de lá de cima!



GP

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