sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Melhores álbuns nacionais: 1º e 2º, parte 2


O universo de J.G. Ballard parecia ter estado apenas à espera que os Mão Morta se lembrassem de o interceptar. A escrita metálica, fria, delirante, distópica, desafiante, provocatória e tremendamente acutilante do autor inglês tem tudo a ver com a obra da banda de Braga. E ao tomar Ballard como ponto de partida para Pesadelo em Peluche, os Mão Morta agarraram de novo as canções, como não o faziam há uma década, desde Primavera de Destroços. E o melhor de tudo é que após um infundado rumor de que a banda estaria prestes a enfiar a guitarra na sacola, os mais de 25 anos de carreira parecem carregar apenas uma certeza: continuamos a precisar deles quanto no primeiro dia. E isso, é um luxo em tempos de rock mortiço e seco de ideias.

As canções são igualmente um íman que puxa as mãos de Bernardo Sassetti para as teclas de um piano que, apesar dos riscos, não resiste a desenvolver uma boa melodia. Motion, disco que continua a explorar a relação com a imagem, mas que está muito longe de se esgotar nesse interminável flirt. Marca igualmente o regresso de Sassetti no formato de trio, com Carlos Barretto no contrabaixo e Alexandre Frazão (na foto), gente que está tão para lá das convenções do jazz contemporâneo que nada nesta música parece quer programado quer aleatório. É como se os três instrumentos estivessem permanentemente a circular em torno de si mesmos, a descobrir-se, a responder-se, a deixar que seja a intuição e o entendimento perfeito a delinearem o caminho. E isso, é impagável. E faz de Motion o melhor disco português de 2010.
(No vídeo, a homenagem ao grande Mark Linkous, através da versão de Homecoming Queen, dos Sparklehorse, gravado em Motion)

2º - Pesadelo em Peluche - Mão Morta


1º - Motion - Bernardo Sassetti Trio


GF

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