quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Melhores álbuns nacionais: 3º e 4º, parte 2


Lula Pena (na foto) esteve 12 anos sem gravar, remetendo-se a uma existência artística própria de eremita, complicada de deslinda para quem está de fora. Os discos tardavam, as promessas iam sendo renovadas, e depois ouvia-se esta mulher em concerto a cruzar as suas composições com temas tradicionais portugueses, os seus 'phados', música brasileira, canção francesa, melodias recolhidas um pouco por todo lado, tudo engolido e devolvido num vómito belíssimo, uniforme, que pegava em todas estas coordenadas e as transformava num único fluxo musical, contínuo, as notas das guitarra acústica a desembocarem inevitavelmente umas nas outras e a voz dorida, confessionária, a ir atrás. Troubador, ao fim de todo este tempo, compensa a espera: renova a fé absoluta numa das mais originais e viscerais vozes cantadas na língua portuguesa. É um disco que dói de tão incrivelmente belo.

Os Deolinda passaram com notável distinção por uma dura prova de fogo: a de arranjar sucessor à altura de Canção ao Lado, que ficará seguramente como um dos álbuns mais marcantes da música nacional neste início de século XXI. Já não é novidade nenhuma que a música destes quatro é a melhor transposição da aldeia para o ambiente popular urbano, os bailaricos da casa do povo para os bailes de Santo António, e que as caricaturas exímias que Pedro da Silva Martins assina na base de barro dos pés anafados deste povo são das melhores coisas que se podia pedir a um país que sempre teve medo de olhar para si, de brincar com a sua imagem e quase sempre se leva demasiado a sério. Dois Selos e Um Carimbo consegue não descer o nível, e confirma-os como um bem precioso, para tratar nas palminhas.

4º - Troubadour - Lula Pena


3º - Dois Selos e Um Carimbo - Deolinda


GF

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