sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Melhores álbuns nacionais: 5º e 6º, parte 2


Quando apareceram com 40:02, os Peixe: Avião (na foto) pareciam fiéis súbditos dos Radiohead, praticantes de uma pop esparsa, de melodias fugidias, frequentemente desenhadas pelo falsete de Ronaldo. Percebia-se já uma matéria diferente dos restantes projectos nacionais, e em que a referência basilar da banda de Thom Yorke não constituía um empecilho à criação de uma nova linguagem. Madrugada, o segundo álbum, deixa esse fantasma num estado cada vez mais fantasmagórico, no sentido em que passa a ser um espectro que de vez em quando se pressente, mas que está longe de assombrar a música do quinteto de Braga. Agora, os Peixe: Avião lembram sobretudo o seu próprio percurso. Deixaram de parecer-se com os outros. E parecem-se cada vez mais com uma ideia de pop exigente que delicia audição após audição.

No mundo do jazz, há dois tipos de músicos: há aqueles que tocam em modo onanista, tão deslumbrados com o facto de se satisfazerem a eles próprios que bem podem tirar-lhes o público todo da frente e continuarão a ter orgasmos sucessivos, encantados com as suas magníficas capacidades técnicas. E há músicos como Carlos Bica, que sabem perfeitamente que a música não é uma prova de velocidade nem um desfile de moda, que mais do que impressionar o olho destreinado, a música vive de cada nota ser depositada no sítio certo, sem ter de se acotovelar para fazer ouvir. Matéria Prima, o seu novo projecto, é mais um exemplo de como as canções podem existir neste contexto do jazz, sem que isso signifique ser xaroposo como Pat Metheny ou convite ao vómito como Diana Krall. Disco que convoca paisagens americanas, sons de todo o lado e um gosto pela experimentação que, ao contrário do que possa parecer, está habitualmente ausente do jazz contemporâneo.

6º - Madrugada - Peixe: Avião


5º - Matéria Prima - Carlos Bica


GF

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