sábado, 26 de março de 2011

Na Montra

Recensão semanal a discos recentes

The Strokes - Angles

O quarto álbum da banda do vocalista Julian Casablancas, que quebra um longo jejum de cinco anos, deveria ser mais especial do que é. A nova dezena de canções expõe uma banda numa encruzilhada de vontades diferentes, meramente a picar o ponto, sem aquele ânimo e aquela autenticidade que os coroou nos dois primeiros álbuns ("Is This It" e "Room on Fire"). E esta falta de júbilo acontece logo no disco de maior pluviosidade de ideias refrescantes após "Is This It", vinda tanto do synth-pop que transitou da investida a solo de Julian Casablancas, como de outras estruturas indie-rockeiras subitamente desmontadas.

Basicamente, "Angles" é um amontoado de quases – quase-grandes-canções – e de sons surpreendentes mas descontinuados, e também de cedências e de fretes: o primeiro single 'Under Cover of Darkness', que abusa do mais-do-mesmo, é uma escolha de um conservadorismo chocante atendendo à vizinhança bem mais inovadora.

Sem grande esforço, a banda lá se vai desenrascando. A pinta do grupo, as famosas tabelinhas entre as guitarras eléctricas de Nick Valensi e Albert Hammond Jr e aquele jeito intacto para a simplicidade vão safando o disco, mas a um nível tangencial.

"Angles" soa demasiado a álbum de serviços mínimos. E a despedida.


Kurt Vile - Smoke Ring For My Halo

Estamos perante um dos melhores álbuns deste primeiros meses do ano: chama-se "Smoke Ring For My Halo" e é o quarto longo de Kurt Vile.

O jovem músico de Filadélfia vem da melhor escola inde rock, Sonic Youth - Dinosaur Jr, como bem se nota naquela forma docemente preguiçosa de cantar (vide Thurston Moore ou J Mascis) ou nos trilhos sónicos da guitarra elécrica.

Mas, para além do rebuliço eléctrico dos seus mestres, Kurt Vile sabe assentar na serenidade contemplativa típica do sadcore dos Red House Painters, com uma poupança de meios mais típica da editora K Records (encabeçada pelo mítico Calvin Johnson) do que da Matador, de que é já um dos grandes nomes.

Canções magistrais como 'Puppet To The Man', 'Society Is My Friend' ou o tema-título 'Smoke Ring For My Halo' reclamam culto urgente para este cantautor da garagem rock.


Gregg Allman – Low Country Blues

Gregg Allman acaba de dar umas reviravoltas ao normal guião da vida. O recente transplante de fígado, a hepatite C que o aflige, os 63 anos que tem e uma carreira a solo deficitária em constância não impediram este histórico dos Allman Brothers Band de fazer aquele que está a ser visto como o seu melhor álbum em nome individual.

Com outro monstro do blues-rock sulista na produção, falamos de T-Bone Burnett, o organista Gregg Allman prova em "Low Country Blues" porque é defendido como uma das maiores vozes brancas da soul, mesmo que num álbum que é acima de tudo de blues.


Cut Copy - Zonoscope

Em 2008 e por causa do single 'Lights and Music', os australianos Cut Copy assinam um compromisso vitalício com o orelhudo. Deles esperamos sempre outro 'Lights and Music, um tema synth-pop quentinho para a alma que se encaixe no imaginário de memórias que temos dos anos 80.

Mas "Zonoscope", o terceiro álbum do projecto de Dan Whitford, não nos dá bem a banda de singles que imaginamos. O disco de 11 temas revela antes um colectivo com uma visão artística do todo, que prefere o aventureirismo naquele submundo de sintetizadores e de cargas e recargas de beats à oferenda de vários 'Lights and Music' ao virar da esquina.


GP

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