sexta-feira, 25 de março de 2011

O tempo perguntou ao tempo que horas são, Don DeLillo?


Há tempos que o tempo não me ocupava tanto tempo assim. Omega Point (Ponto Ómego quando a digestão se faz em português). O livro de Don DeLillo (não confundir com Don DeLuise, do Candid Camera) é uma das mais belas reflexões sobre o tempo - lato -, o tempo - nosso - e o que tempo - que julgávamos nosso, mas que se escapa e, na verdade, não é senão dele mesmo. O mote aparece sugestionado pela instalação de 24 Hour Psycho, aquela em que Douglas Gordon (o tipo que instalou 17 câmaras num campo de futebol para seguir cada movimento de Zidane) desacelera a obra-prima de Hitchcock até se esticar durante 24 horas.

Livro belíssimo, uma vez mais, porque esta decomposição dos movimentos, o fazer de cada miserável movimento a coisa mais importante do mundo e, simultânea e paradoxalmente, esvaziá-lo de sentido é simplesmente avassaladora. O falso-mistério do livro é de uma poesia sublime: ninguém quer verdadeiramente saber para onde foi 'ela'. O que interessa é que se foi; o interessa é o que se faz com isso; o que interessa é o que o deserto, em Point Omega, é o único elemento que não comporta miragens.

Tenho lido.

GF

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