sábado, 7 de maio de 2011

Na Montra

Recensão semanal a discos recentes.


Beastie Boys - Hot Sauce Committee Part Two
A telepatia única entre os três bros dos Beasties está para durar. Continuam uns garotos. E nem sequer precisaram de mudar muito os seus procedimentos naquele hip hop contagiante e funky. Está lá o mesmo rap a velocidade de foguetão; a habitual intervenção do homem-robot naquele triângulo vocal; a carregada artilharia de samples; o pontual número de putos garageiros a fazer punk-hardcore; aqueles instrumentais que sugerem aquilo que deveria ser a música de elevador; a arte de converter o assunto mundano e a competição de narcisismos num rap contagiante; e o frenesim de Nova Iorque como cenário.

O grandioso património musical dos Beastie Boys impede que a metodologia recorrente se transforme numa insipidez rotineira, a que acresce o picante diferenciador das intervenções convidadas: Nas mete a colherada em 'Too Many Rappers'; Santigold contracena com os Beasties na frequência afrobeat de 'Don't Play No Game That I Can't Win'.

A poderosa festa de "Hot Sauce Committee Part Two" faz esquecer o drama que tem envolvido Adam Yauch que, ainda a tratar de um cancro nas glândulas salivares, obrigou os Beasties a uma troca de planos e a um adiamento sucessivo da edição do sétimo álbum de estúdio. Mas nada pára o grupo.

Texto baseado em artigo assinado para o Cotonete.


Os Lábios - Morde-Me a Alma
Não é muito comum no indie rock nacional aparecer uma banda de sensibilidade pop tão apurada, e de coros tão orelhudos como estes debutantes Lábios. Produzidos por Miguel Ângelo e herdeiros da mesma formação dos Profilers (de orientação mais bluesy, e de língua inglesa de escolha), têm um optimismo e uma sofreguidão rockeira que os torna nos mais directos representantes em Portugal da sonoridade new waver dos Blondie e dos Altered Images. Eis um bom caso de uma banda pop-rock que sabe o que quer das canções e o que as canções querem dela. Tudo escorreito, sem quaisquer rodriguinhos ou delongas, directo ao ponto.




Low - C'mon
Começaram como fundamentalistas do slow-core em "I Could Live in Hope" (de 1994): radicalmente vagarosos, minimalistas, claustrofóbicos, perturbadores. Depois, foram superando a idade média de uma banda rock com o alargamento moderado de outras opções: mais instrumentos, e até aventura conceituais diferentes como no mais eléctrico e veloz "The Great Destroyer" (de 2005). Actualmente, acusam algum desgaste com atributos (como as bela harmonias vocais entre o casal fundador Alan Sparhawk e Mimi Parker) que começam a descolorar, sobressaindo agora uma sensação de redundância. Terá que ser a queda irreversível?




Fleet Foxes – Helplessness Blues
Fascinaram meio-mundo indie como uma espécie de Beach Boys do bosque, através do fascinante álbum de estreia homónimo. Mas ao segundo álbum, o grupo liderado por Robin Pecknold apresenta sintomas avançados de Eaglite: um vírus que vulgariza bandas de folk-rock até ao nível do aborrecimento e que está a disseminar, por exemplo, os Band of Horses (abençoados igualmente por uma estreia de arromba antes da contaminação). Há aqui uns quantos 'Hotel California', mesmo que actualizados num cenário mais indie.

O curioso é que quando o grupo se afasta das guitarras eléctricas e se foca em harmonias vocais folk mais ancestrais, uma magia deslumbrante se instala, quase nos levando a perder a cabeça por um disco que é tudo menos grande.



GP

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