quarta-feira, 22 de junho de 2011

Não Estava Lá, Não Estava Lá


Festival Super Bock Super Rock 1995

Somos hoje citados frequentemente nos roteiros dos festivais internacionais elaborados pelas várias publicações internacionais de prestígio. Mas começámos tarde nesta rotina anual de grandes festivais, no já tardio 1995. O evento fundador foi o festival Super Bock Super Rock, nascido, por incrível que pareça!, do esforço conjunto das três maiores promotoras ao vivo (supostas concorrentes). O local não podia ser mais urbano: a Gare Marítima de Alcântara, debaixo da sombra da Ponte 25 de Abril e diante do olhar do Cristo Rei.

O cartaz chamava a atenção: The Cure, Jesus & Mary Chain, Faith No More, Therapy?, Young Gods, Morphine, Youssou N’Dour e, contra aquela corrente alternativa, os GNR. Dois dias de programação num só palco bastavam. Foi um sucesso. O festival sobreviveu aos mais diferentes formatos. E ainda hoje foi apresentada à imprensa aquela que é já a 17ª edição do SBSR, num pinhal a alguns quilómetros da Aldeia do Meco.

Voltemos a Julho de 1995, quando eu estava tão perto e tão perto do que estremecia naquele novo festival. Tão perto, porque estava a poucos quilómetros do recinto. Tão perto, porque estava a acompanhar apaixonada e radiofonicamente através de uma estação que me irritava, a Rádio Energia (por que razão não era, por mérito e justiça, a XFM a transmitir aquilo tudo?, pensava eu). Estava fustigado por demasiados exames para conseguir que a emoção levasse a melhor sobre a razão. E em vez de estar a correr de pé todos aqueles concertos reunidos num grande festival, estava sentado à frente de uma escrivaninha e de uma desgovernada torre de dossiês com a inclinação de Pisa. Em vez do conforto do desconforto, tinha o desconforto do conforto.

Restam-me os relatos das actuações endiabradas dos Young Gods (na primeira noite) e dos Therapy? (a meio do segundo dia), da tomada de surpresa das almas tugas pelo abrasileirado líder espiritual Mark Sandman dos Morphine, da vénia beata perante os Cure, da condução sábia da multidão por Youssou N’Dour, de opiniões difusas sobre os Jesus & Mary Chain e os Faith No More e de um terreno minado que armadilhou os GNR para uma actuação aziaga, perante um público que estava de costas voltadas. Tudo li e ouvi mesmo que nada tenha visto. E mais lia e ouvia, mais me doía não ter ido. Não me lembro das notas dos exames; lembro-me do que perdi naquele festival.







GP

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