segunda-feira, 1 de agosto de 2011

MTV: Máquina Televisiva Velhota

A MTV começou a emitir há trinta anos. Costuma-se dar os parabéns nestas ocasiões. Mas, neste caso, o que a MTV merece é um lamento, perante o contraste entre aquilo que ameaçou ser (um canal televisivo de música eclético, mesmo que predominantemente pop) e aquilo em que se tornou (um rol incessante de programas coscuvilheiros e sensacionalistas, e uma programação em que a música parece ser uma miragem e sempre a última opção). Não exigia a utopia (uma espécie de XFM musical, qualitativa e diversificada), conformava-me com aquilo que a MTV era no início dos anos 90: um tipo de playlist expansivo que, atento, ia repescando um ou outro vídeo às franjas e aos programas autorais a que dava espaço, acrescentando também esforços de reportagens como especiais em festivais ou outros assuntos temáticos. Era uma espécie de canal mais humanizado e com grandes defeitos que se eclipsou numa coisa cheia de nada, delegando a música a subcanais que, vazios de gente, só sabem emitir em piloto automático.

O que falta aos trinta anos da MTV é mais momentos como a conversa absurda entre Thurston Moore dos Sonic Youth (no papel de entrevistador) e Beck (o entrevistado), ocorrida em 1994. O novato loirinho, que ainda pôde contar com uma MTV minimamente decente para se conseguir projectar com impacto televisivo, não se atemorizou perante o ídolo, e partiu para um atrevimento de respostas bizarras e humorísticas. A partir de um certo momento, Moore pergunta-lhe a idade. «23», Beck. «A sério? Pareces muito mais velho», Thurston Moore. «Oh sim!? Excelente», Beck. «Pareces ter p’ra aí 45», Thurston Moore. «Sinto que tenho p’ra aí 60», Beck. Se me perguntassem a idade da MTV, também eu daria muito mais que aquela que tem, p’ra aí 90. É um canal mais à mão daquele cliché da doméstica que gosta das novelas do que de um jovem que procura música.

And now for something completely different…



GP

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