segunda-feira, 18 de julho de 2011

A luta continua


Super Bock Super Rock ’11: top five pessoal

Fazer um festival como o Super Bock Super Rock naquele pinhal de Cabeço da Flauta tem qualquer coisa de empreendimento à Werner Herzog, numa luta louca contra a natureza em que nem sempre o homem vence. Um excesso de pó apocalíptico e um som à deriva do vento são pormenores de um permanente desconforto iniciado com um engarrafamento absurdo de três horas na única estrada que nos poderia levar ao recinto logo no primeiro dia. Mas, por momentos, a música conseguiu impor-se. Anota-se apenas os melhores casos.

1º Portishead no Palco Super Bock (2º dia, noite avançada)
Foram a única infra-estrutura humana que se conseguiu instalar de pedra e cal, contra os infortúnios do agreste local. O som trip-hop hipnótico com raios de experimentalismo engasgado à Neu, uma voz charmosa (da mulher de olhos fechados Beth Gibbons) e um cinema à larga escala quase que deram, no total, o efeito esmagador da primeira passagem de todas, no Sudoeste em 1998. Andaram lá perto.

2º PAUS no Palco EDP (3º dia, final de tarde)
Paus há quatro. Isto é, dois bateristas (Joaquim Albergaria e Hélio Morais) num frente-a-frente; e num degrau acima dois teclistas (Makoto e João Shela). Ensaiam uma nova fórmula que dá um misto curioso entre tribalismo e futurismo. O cruzamento genético entre o experimentalismo rock dos Can e o pioneirismo electrónico dos Kraftwerk tem finalmente um filho que afinal é bem português (e não alemão). Venha esse primeiro álbum em Outubro.
Escrito baseado em texto assinado para o Cotonete.

3º X-Wife no Palco Super Bock (3º dia, final de tarde)
Olhando para o à-vontade com que se move a banda de João Vieira com o seu garage-rock electrónico naquele ambiente de festival, pergunta-se: porque não os vemos mais nestes eventos? A aposta do cartaz deste festival na música nacional parece vingada.

4º Arcade Fire no Palco Super Bock (2º dia, início de madrugada)
Tendo em conta os antecedentes, o normal seria colocar os Arcade Fire no topo da lista. Mas os velhos problemas técnicos que afectam o grupo passaram de detalhe a questão central, num som que esteve demasiado fugido para poder ser sentido. A mecânica mais rotineira da banda do simpático Win Butler também não ajudou a conquistar cépticos - uma especialidade que dantes lhe reconhecíamos em palco. Mas não nos importávamos de voltar a ver a dança de Regine Chassagne com as tiras de pano esvoaçantes em Sprawl II (Mountains Beyond Mountains).

5º The Strokes no Palco Super Bock (3º dia, início de madrugada)
Trouxeram as roupas ‘cool’ e as suas grandes canções - o que, em modo QB, dá uma hora bem passada (talvez mais). Mas as cabeças já estavam noutro lugar, longe de uns dos outros. Os comentários entredentes e as private jokes de Julian Casablancas não auguram nada de bom. Vimos os Strokes mas já não vimos a banda.

GP

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